O caos financeiro que assola o Cruzeiro chegou a tal ponto que um movimento de torcedores da Raposa surgiu para ajudar os funcionários do clube que ganham salários de até R$ 2 mil e estão sem receber seus vencimentos. A atitude visa arrecadar cestas de Natal para os colaboradores que enfrentam dificuldades neste fim de ano.

Membro da Associação Grandes Cruzeirenses (AGC), o empresário José Eustáquio Magalhães Elias diz que o grupo, o qual ele destaca ser apolítico, encampou a campanha por entender o cunho solidário da ação. “É um movimento da torcida. A última coisa que eu queria era ver isso, um clube jogado às traças por dirigentes irresponsáveis, que deixaram o clube nessa situação pré-falimentar. Agora a conta chegou”, afirma.

No Twitter, a torcida já se movimenta no sentido de arrecadar fundos para a compra das cestas.

Pessoal, vamos abrir uma conta na segunda para esse fim. Apenas para isso! Iremos postar aqui o total arrecadado e também a prestação de contas com imagens das entregas. Parabéns aos envolvidos e para os que contribuíram.

— Edinho Potsch (@EdinhoPotsch) December 14, 2019

O ex-vice-presidente de futebol do Cruzeiro, Bruno Vicintin, também se solidarizou realizou a compra de 300 cestas básicas que serão entregues nesta semana aos funcionários da Raposa.

As iniciativas dos torcedores acontecem depois que uma carta ao presidente Wagner Pires de Sá do Cruzeiro circulou nesta sexta-feira (13) nas redes sociais. O documento, assinado por funcionários do clube, mas sem especificar nomes, reivindica uma rápida solução: "Pedimos a Presidência, encarecidamente, que pense na instituição, e tome decisões capazes de reverter esta situação. O Cruzeiro é grande demais para passar por problemas como este". Leia, na íntegra, a carta:

Carta à Administração do Cruzeiro Esporte Clube

Em nome de uma grande parcela de funcionários do Cruzeiro Esporte Clube manifestamos nossa indignação e tristeza em razão do momento vivenciado nesta instituição. Muitos de nós somos colaboradores antigos, e exercemos com muita dedicação e respeito nossas funções (das mais simples às mais complexas). Dos bastidores assistimos uma verdadeira devassa no nosso clube, sem nada podermos fazer.

Novos funcionários chegaram ao Clube por indicação, cresceram rapidamente, tiveram salários rapidamente aumentados. Enquanto isso, vimos nossa fonte de renda secando. Estamos passando por momentos nebulosos, de incertezas. Salário de todas as unidades do Cruzeiro atrasados; nenhuma perspectiva de pagamento de 13º salário.

Funcionários trabalhando arrastados, doentes, tristes, alguns com problemas familiares e sem qualquer perspectiva de melhora. Hoje, nos corredores, não mais comemoramos vitórias. Perguntamos uns aos outros “quando iremos receber?”, “o salário será parcelado?” O sentimento de tristeza está estampado no rosto de cada colaborador.

A incerteza do dia de amanhã nos entristece e preocupa. Nada é dito. Ninguém se manifesta ou nos dá explicações. Vamos trabalhando um dia após o outro na esperança de que algo aconteça, de que, quase que milagrosamente, alguém faça algo por nós. Não temos voz. É necessário lembrar que por trás do futebol, existe um outro “time” que é fundamental para o funcionamento da instituição. Quem aqui está, sabe bem quem é quem. Nossa grande esperança não aconteceu até o momento: um choque de gestão.

Pedimos a Presidência, encarecidamente, que pense na instituição, e tome decisões capazes de reverter esta situação. O Cruzeiro é grande demais para passar por problemas como este.

Belo Horizonte, 13 de dezembro de 2019.

Funcionários do Cruzeiro Esporte Clube