Se existe um ramo em que as mulheres são a grande maioria no mercado, este ramo é o da beleza. E os números são claros e expressivos para comprovar aquilo que já é tão perceptível. Basta olhar para os salões, para as blogueiras de sucesso criando marcas independentes de maquiagem, e para as grandes novidades da área, para notar a presença delas. São histórias que se cruzam com o desejo em comum de assumir o protagonismo de suas vidas, adquirir independência financeira e alcançar maior flexibilidade para cuidar daquilo que ainda parece ser função só delas, os afazeres domésticos e os filhos.
Em Minas Gerais, as mulheres representam 75% das microempreendedoras que atuam na área da beleza, uma das mais lucrativas do país. Segundo a Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (ABIHPEC), o Brasil tem o 3º maior mercado consumidor do mundo.
São exemplos de sucesso, de quem arriscou, inovou e hoje fatura alto. Há também aquelas - que são a grande maioria- que veem no empreendedorismo de beleza a chance inicial de complementar a renda com algo que domina e tem propriedade de fala:
"Tem uma tendência maior da mulher entender um pouco mais desse mercado, e quando ela entende o seu mercado consumidor, ela tem maiores chances de ter sucesso naquilo. Quando a empreendedora se apropria da marca, se apropria do seu negócio e sabe quem é o cliente dela, quem é aquela persona, ela tem muito mais chance de acertar", afirma Michelle Chalub, analista do SEBRAE (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas).
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Um hobby que deu certo
Foi arriscando que Nath Capelo -um dos maiores nomes do mercado nacional da beleza- começou. O que inicialmente era uma distração para fazer aquilo que gosta, na casa dos pais, se transformou em uma das maiores empresas mineiras de maquiagem, a Nath Capelo Cosmetics.
"Inicialmente era um hobby, atendia no fundo da casa dos meus pais. Conciliava o CLT com os atendimentos. Depois que vi a possibilidade de me sustentar fazendo o que amo, pedi demissão e montei a minha primeira sala comercial", afirma a empresária.
Consolidada no mercado, a empresa de Nath atualmente tem 30 produtos de beleza feitos em Minas Gerais, São Paulo e no Paraná. A dedicação da empresária, que acumula mais de meio milhão de seguidores nas redes sociais, atualmente é exclusiva para a marca que é vendida em todo o país.
Ao ser questionada sobre os principais desafios ao longo dos 15 anos de carreira, Nath aborda um ponto que atinge grande parte das mulheres empreendedoras:
"É muito difícil conciliar a vida de mãe e liderar uma empresa. São muitas preocupações, pressão e falta de apoio. Infelizmente até hoje as responsabilidades de um lar em sua grande parte sobrecarregam mulheres", pontua.
Dados comprovam a sobrecarga
Uma pesquisa feita pelo SEBRAE, em 2024, aponta que 70% das mulheres empreendedoras em Minas Gerais também são responsáveis pelos afazeres domésticos. Apenas 14% dividem as tarefas com os seus companheiros. O levantamento ouviu 927 pessoas, sendo 336 mulheres e 591 homens.
"A dificuldade dessa conciliação de casa, filhos e negócios, ela é muito evidente em todas as pesquisas que a gente faz. E isso impacta diretamente no negócio, porque a mulher investe menos tempo, ela se planeja de forma um pouco mais atribulada e muitas vezes não consegue focar nas vendas e no seu cliente", pontua a analista do SEBRAE Michelle Chalub.
O jeito tradicional ainda vive
Apesar do número crescente na área, não é de hoje que as mulheres buscam no ramo da moda e beleza uma forma de complementar renda. Quem nunca comprou cosméticos nas mãos de revendedoras com as tradicionais revistas da Avon, Natura e Mary Kay?
Mesmo com a explosão da internet, das vendas on-line e abertura de lojas físicas, muitas mulheres ainda sobrevivem como consultoras de beleza. E elas garantem que grande parte das clientes ainda são adeptas aos catálogos físicos.
"Com o avanço da tecnologia hoje nós temos as revistas digitais que a gente pode enviar para as clientes e elas conseguem acessar pelo celular. Mas ainda temos as revistas físicas, e elas são as queridinhas das clientes e a minha também. Eu adoro apresentar as revistas, mostrar os produtos, poder sentir o cheirinho dos perfumes e anotar na hora o que elas querem. Fazer a tradicional dobra na folha para fazer o pedido depois. A venda pelas revistas físicas ainda hoje é sucesso e é por onde eu mais consigo fazer vendas", afirma Carla Fernanda da Silva, consultora há pouco mais de 1 ano.
Segundo levantamento da Natura e Avon- líderes no ramo nacional-, a venda por catálogos físicos ainda movimenta R$ 1,8 milhão no país. O Brasil também é o 3º país no mundo em lançamento de produtos de beleza, ficando atrás apenas dos Estados Unidos e China.
"A venda de cosméticos com certeza é uma forma de ajudar as mulheres a ter uma renda extra ou até mesmo a renda principal e poder conciliar com outras tarefas como ser dona de casa, ser mãe, poder estar ali dentro de casa vendo o crescimento dos filhos. É também uma forma de levar autoestima não só para os clientes, mas também para nós consultoras. A gente está sempre estudando os produtos, usando- os. É muito mais do que só vender, é elevar realmente a autoestima, a confiança das mulheres. Para mim é maravilhoso ser consultora de beleza", comemora Carla.