Quase 15 mil brasileiros vivem em Israel e Irã, países protagonistas do conflito que tem deixado o mundo em alerta há duas semanas. O número consta em pesquisa do Ministério das Relações Exteriores, de 2023, e que não revela, exatamente, qual o tamanho da comunidade brasileira que vive nos dois países atualmente. Deste total, o maior volume está concentrado em Israel - cerca de 14 mil, conforme os registros da Embaixada do Brasil em Tel Aviv. 

No Irã, são cerca de 200 pessoas que deixaram o território tupiniquim para viver nas imediações de Teerã. Considerada toda a população verde e amarela no Oriente Médio, o Itamaraty contabiliza quase 64 mil brasileiros na região. Com a escalada do conflito, o ministério tem solicitado que os cidadãos atualizem informações junto às embaixadas. 

O posicionamento do ministério, inclusive, foi alvo de críticas dos prefeitos brasileiros que retornaram de uma missão sobre segurança pública, em Israel, na última semana. “Sobre o Itamaraty eu dou um conselho a eles: resolva o problema dos brasileiros que estão lá”, disparou o prefeito de Belo Horizonte, Álvaro Damião (União Brasil), após desembarcar no Aeroporto Internacional de Confins no dia 18 de junho. 

Na avaliação do professor de Relações Internacionais da PUC-SP e pesquisador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Estudos sobre os Estados Unidos (INCT/INEU), Rodrigo Amaral, o posicionamento adotado pelo Itamaraty até o momento é correto, considerando o contexto do conflito. O docente afirmou que não só o Brasil, como outros países, têm preocupações acerca da integridade física dos cidadãos que habitam a região. 

“Mas evidentemente que essa não é a primeira ordem de importância quando se trata de um contexto de conflitualidade. Então é natural que haja certa demora, sobretudo em um cenário em que essa conflitualidade se dá no âmbito aéreo, com ataques aéreos usando mísseis, drones. Os espaços aéreos desses estados, muitas vezes, são fechados durante esse período, dificultando a saída de pessoal militar, civil ou diplomata”, sinalizou Amaral. 

O pesquisador do Núcleo de Prospecção e Inteligência Internacional da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Leonardo Paz diz que o Brasil deveria se colocar à disposição para auxiliar brasileiros que estão em Israel e Irã caso desejem sair dos países. “Nós ainda não temos ainda um conflito muito destrutivo entre esses dois países, não é nada como o que acontece na Faixa de Gaza. Na média, você não tem muitos ataques a residências ou coisa parecida, a maior parte está concentrada em instalações militares e defesa antiaérea. Então, o Brasil tem pouco a fazer nesse momento, a não oferecer a possibilidade, de aqueles que queiram sair dos países, que façam isso da forma mais rápida e mais segura possível”, ponderou. 

Impactos ao Brasil 

Mesmo sem envolvimento no conflito, o Brasil pode ser impactado pela troca de ataques entre Israel e Irã, já que há risco de elevação no preço dos combustíveis do país com a valorização do barril de petróleo no mercado internacional. Neste sentido, Rodrigo Amaral, da PUC, considerou que o posicionamento do governo brasileiro, até o momento, é correto. No final de semana, após o ataque dos Estados Unidos às instalações nucleares do Irã, o Itamaraty condenou a ofensiva norte-americana e de Israel

O posicionamento gerou críticas. A Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional da Câmara dos Deputados, por exemplo, criticou a nota emitida pelo Ministério das Relações Exteriores. “O posicionamento brasileiro foi correto, é isso mesmo e está de acordo, inclusive, com a tradição diplomática brasileira e está coerente com o contexto político internacional e a forma como o Brasil tem lidado com outros casos de bombardeamento”, disse Amaral. 

O docente relembrou que o país condenou Israel pelos ataques em Gaza e também o Irã pela resposta à ofensiva israelense. “Portanto, existe um equilíbrio, um posicionamento que nós costumamos chamar de neutralidade, neutralidade mediante conflitos internacionais que não nos afetam diretamente, digamos assim. Essa é uma tradição brasileira”, arrematou. Leonardo Paz, da FGV, por sua vez, compartilha de pensamento semelhante e diz que o posicionamento brasileiro foi natural. 

“O Brasil vai se posicionar criticando as agressões, os ataques e tentando fazer com que os países voltem para a negociação com todos os atores envolvidos”, finalizou.