Um violino Stradivarius fabricado em 1709, conhecido como Mendelssohn, pode ter sido encontrado no Japão após quase oito décadas de seu desaparecimento durante a 2ª Guerra Mundial. A pesquisadora Carla Shapreau afirma ter encontrado o instrumento depois de observar fotografias de uma exposição realizada em Tóquio em 2018. O violino pertencia à família Mendelssohn-Bohnke e estava guardado em um cofre bancário em Berlim quando foi roubado em 1945.

Shapreau, pesquisadora sênior do Instituto de Estudos Europeus da Universidade da Califórnia em Berkeley, analisava imagens da exposição japonesa quando percebeu as semelhanças entre o instrumento apresentado como "Stella" e o Mendelssohn desaparecido. Conforme reportado pelo The New York Times, a descoberta representa um avanço significativo na busca por artefatos culturais desaparecidos durante o regime nazista.

"Meu queixo caiu", disse Shapreau, que procurava o instrumento há mais de 15 anos como parte do projeto Lost Music, dedicado a investigar objetos culturais saqueados durante o período nazista.

O violino havia sido guardado em um cofre bancário em Berlim como proteção contra a perseguição nazista que ameaçava os bens de famílias judias. O instrumento foi transferido para um cofre do Deutsche Bank e, segundo uma carta enviada pelo banco à família em 1960, foi saqueado em 1945, durante o caos do fim da Segunda Guerra Mundial, quando Hitler havia se suicidado e o exército soviético avançava sobre a cidade.

Franz von Mendelssohn, sócio do Banco Mendelssohn em Berlim e colecionador de instrumentos, era o proprietário original do violino. Após sua morte em 1935, o instrumento foi armazenado no Banco Mendelssohn, instituição forçada à liquidação pelos nazistas em 1938, com seus ativos sendo absorvidos pelo Deutsche Bank.

O violino foi localizado em posse do violinista japonês Eijin Nimura, de 54 anos, músico que atua como artista da paz da UNESCO e realiza concertos em homenagem a vítimas de desastres naturais. Shapreau rastreou o instrumento até Nimura por meio de registros de venda, entrevistas e outros dados, concluindo que ele o adquiriu por volta de 2005.

"Ele estava escondido à vista de todos", afirmou Shapreau.

Jason Price, fundador da casa de leilões Tarisio, confirmou que um violino Stradivarius datado de 1707 e avaliado entre US$ 1,2 milhão (R$ 6,5 milhões) e US$ 1,5 milhão (R$ 8 milhões) passou por sua casa de leilões em 2000, mas não foi vendido. Price estima que o violino Mendelssohn tenha valor atual de até US$ 5 milhões (R$ 27 milhões). Após comparar fotografias do arquivo da Tarisio com imagens antigas do Mendelssohn, Price não tem dúvidas.

"É obviamente o mesmo", afirmou Price. "Quando você olha as fotos lado a lado, vê as peculiaridades dos padrões de desgaste, os amassados, os arranhões. É o mesmo violino. Não há dúvida quanto a isso, e não creio que alguém possa apresentar um argumento razoável de que não seja."

Jean-Philippe Échard, curador de instrumentos de corda do Musée de la Musique em Paris, também analisou as imagens e considerou as semelhanças "impressionantes e, de fato, muito convincentes".

A forma como o violino chegou ao Japão ainda não está esclarecida. Quando Shapreau tentou contatar Nimura no final do ano passado, ele se recusou a discutir o assunto. Seu advogado, Yoshie Tsuruta, do escritório Peaceful International Law Firm em Tóquio, enviou uma carta à pesquisadora declarando: "Não temos nenhuma informação a esse respeito, nem qualquer base factual que sustente suas alegações". A carta acrescenta: "O Sr. Nimura é um comprador de boa-fé do instrumento, adquirido por valor legítimo. O instrumento pertence ao Sr. Nimura".

David Rosenthal, membro da família Mendelssohn-Bohnke e ex-percussionista principal da Orquestra do Balé de São Francisco, descreveu sua reação ao ser informado sobre a possível descoberta: "Minha reação foi de total incredulidade e choque".

Rosenthal iniciou tentativas de contato com Nimura em 2024. Em resposta, a advogada do violinista classificou as abordagens de Rosenthal e Shapreau como assédio, solicitando "cessar e desistir de qualquer outra ação, conduta ou comportamento".

"Minha mãe era pianista", disse Rosenthal. "Meu tio era pianista. Minha avó era uma musicista que adorava tocar esse violino. Meu avô era maestro."

"O fato de ele ter sido encontrado depois de tanto tempo realmente nos abalou. O violino faz parte de nós. A música está no coração da nossa família. Só queremos uma solução", acrescentou Rosenthal.

O caso do Stradivarius Mendelssohn revela problemas no comércio de instrumentos raros, onde informações sobre procedência muitas vezes não são bem documentadas. A preocupação com a origem de obras de arte e instrumentos musicais ganhou maior atenção a partir da década de 1990, quando o mercado começou a investigar itens que estiveram na Europa durante o Holocausto.

Shapreau rastreou o histórico do violino até 1995. Naquele ano, o luthier parisiense Bernard Sabatier foi procurado por um violinista russo que queria vender um instrumento adquirido em 1953 de um negociante alemão em Moscou. Um certificado emitido por Sabatier em 1999 indicava que o violino havia sido fabricado em 1707, dois anos antes da data do Mendelssohn desaparecido.

A empresa Machold Rare Violins, uma das principais revendedoras de instrumentos da Alemanha, emitiu em 2005 um certificado de autenticidade indicando o violinista japonês como proprietário. O documento referia-se ao instrumento como Stella e afirmava que ele teria pertencido a "uma família nobre que vive na Holanda desde os tempos da Revolução Francesa".

Quando Shapreau encontrou fotos do violino na exposição de 2018 no Mori Arts Center Gallery, em Tóquio, ela identificou o instrumento imediatamente. "Fiquei chocada, porque ele havia sido renomeado, redatado e estava em posse privada", relatou.

Rosenthal escreveu em um e-mail enviado ao músico: "Agora está claramente estabelecido que este violino está atualmente em suas mãos e que uma procedência completamente fictícia foi inventada para ele. Será impossível manter a verdadeira identidade do chamado 'Stella' em segredo".