O setor de calçados em Minas Gerais, que tem em Nova Serrana, na região Centro-Oeste, um grande polo industrial, pode ser profundamente atingido pelo tarifaço do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, não só no que diz respeito às exportações, mas também por causa de um possível aumento da concorrência interna com produtos do Sul do Brasil.
De acordo com Patrícia Rajão, gerente do Sindicato das Indústrias de Calçados, Bolsas e Cintos de Minas Gerais (Sindicalçados-MG), empresas mineiras que não vendem seus produtos para os Estados Unidos temem que os concorrentes, principalmente do Rio Grande do Sul, outro grande polo calçadista, deixem de exportar, gerando uma reação em cadeia. Com parte do mercado externo inviabilizada, esses empreendimentos podem voltar a atenção para o mercado brasileiro, impactando os negócios mineiros.
“Em geral, as empresas mineiras de calçados não têm um perfil de exportação para os Estados Unidos. No entanto, muitos empresários estão preocupados com o fato de que o Sul do país, que exporta muito, se volte para o mercado interno. Com isso, a disputa ficará muito grande”, diz ela.
Conforme Patricia, a concorrência pode aumentar muito, impactando os preços dos produtos e os lucros. No entanto, segundo ela, ainda está tudo muito prematuro, e não estão sendo tomadas medidas para atuar nesse novo possível cenário por enquanto. “Temos a expectativa de que ainda haja uma negociação”, avalia.
A gerente do Sindicalçados-MG lembra que o Sul do país conta com uma grande estrutura de fornecedores, além de mão de obra mais fácil, o que os torna bastante competitivos.
Exportações
Apesar de as exportações para os Estados Unidos não serem praticadas por muitas empresas mineiras, isso não é a realidade de todas elas. Patricia lembra que há marcas que já veem as vendas para o mercado externo paradas e desafios já sendo enfrentados.
Presidente do Sindicalçados-MG e proprietário das lojas Luiza Barcelos, Luiz Barcelos afirma que a empresa já perdeu dois pedidos por conta do tarifaço de Trump, avaliados no que corresponde a R$ 600 mil. Conforme ele, a situação permanece dessa maneira “enquanto não tiver uma notícia sobre se realmente vai entrar em vigor ou não a taxação”, finaliza.
Posicionamento
Após Trump anunciar o tarifaço, a Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados) emitiu nota destacando a preocupação com a medida. “No primeiro semestre, estávamos, aos poucos, recuperando mercado nos Estados Unidos, apesar de todas as instabilidades. O anúncio do presidente Trump, com novas tarifas a partir do dia 1º de agosto, é um grande balde de água fria para o setor calçadista brasileiro”, disse o presidente-executivo da Abicalçados, Haroldo Ferreira.
Conforme a entidade, o Brasil enviou 1 milhão de pares de calçados aos Estados Unidos em junho, totalizando US$ 20,76 milhões. O número representa um crescimento de 39,4% no volume e de 25,4% na receita na comparação com o mesmo mês do ano passado.