O Exército israelense afirmou, nesta terça-feira (26), ter tido como alvo uma câmera operada pelo Hamas em dois ataques que mataram cinco jornalistas no dia anterior, acrescentando que seis "terroristas" também morreram.
Em um comunicado, o Exército israelense afirmou que soldados "identificaram uma câmera posicionada pelo Hamas na área do Hospital Nasser", no sul da Faixa de Gaza, acrescentando que "operaram para remover a ameaça, atacando e desmontando a câmera".
"Seis dos indivíduos mortos eram terroristas", afirmou, acrescentando que o chefe do Estado-Maior israelense instruiu "a examinar mais detalhadamente várias lacunas", incluindo o "processo de autorização anterior ao ataque".
Cinco jornalistas, incluindo repórteres que colaboravam para Al Jazeera, Reuters e AP, morreram nesta segunda-feira (25) em um bombardeio de Israel contra um hospital na Faixa de Gaza que o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, classificou como um "trágico acidente".
Violência contra a imprensa
A guerra em Gaza teve um balanço trágico para os jornalistas: cerca de 200 repórteres morreram em quase dois anos de conflito, segundo os dados do Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ) e Repórteres sem Fronteiras (RSF).
A emissora do Catar, Al Jazeera, e as agências internacionais Reuters e AP noticiaram as mortes de seus jornalistas e expressaram pesar e consternação.
O porta-voz da Defesa Civil de Gaza, Mahmud Basal, relatou que 20 pessoas morreram no ataque ao Hospital Nasser em Khan Yunis, no sul do território, entre elas "cinco jornalistas e um membro da Defesa Civil".
O Exército israelense reconheceu que lançou "um ataque na área do hospital Nasser" e ordenou uma investigação. O primeiro-ministro israelense afirmou que o bombardeio foi um "trágico acidente".
As imagens da AFP captadas após o bombardeio mostram fumaça e destroços do lado de fora do hospital. As pessoas corriam para ajudar os feridos e carregavam corpos ensanguentados e mutilados para dentro do complexo hospitalar.
No local ficou a câmera fotográfica ensanguentada de Mariam Dagga, uma fotojornalista de 33 anos, que colaborava com a agência americana The Associated Press (AP) desde o início da guerra.
Uma multidão em lágrimas se despediu de alguns dos repórteres falecidos, cobertos com um véu branco e com seus coletes à prova de balas.
O Hospital Nasser, um dos últimos parcialmente operacionais na Faixa de Gaza, foi alvo de ataques israelenses em várias ocasiões desde o início da guerra em Gaza, desencadeada pelo ataque sem precedentes do Hamas contra Israel em 7 de outubro de 2023.
"Silenciar a verdade"
Bassal afirmou que o primeiro ataque foi executado com um drone explosivo e, em seguida, ocorreu um bombardeio no momento em que os feridos estavam sendo retirados.
A Reuters informou que no momento do primeiro bombardeio, um repórter que trabalhava para a agência estava transmitindo imagens ao vivo do hospital e que o sinal foi abruptamente interrompido.
"Estamos consternados com a morte do colaborador da Reuters Husam al Masri e as lesões sofridas por outro dos nossos colaboradores, Hatem Jaled", declarou um porta-voz da Reuters.
A emissora Al Jazeera anunciou que um de seus jornalistas, o cinegrafista Mohammad Salama, morreu no ataque.
A emissora condenou, "nos termos mais enérgicos possíveis, o crime horrível cometido pelas forças de ocupação israelenses, que atacam diretamente e assassinam jornalistas como parte de uma campanha sistemática para silenciar a verdade".
Há duas semanas, quatro repórteres e dois colaboradores da Al Jazeera morreram em um ataque direcionado das forças israelenses, que acusaram um deles de ser integrante do movimento islamista palestino Hamas.
O sindicato de jornalistas palestinos identificou outros dois jornalistas mortos, Moaz Abu Taha e Ahmad Abu Aziz.
O jornalista Hasan Douhan também morreu nesta segunda-feira em outro ataque israelense em Al Mawasi, perto de Khan Yunis, informaram o sindicato dos repórteres e o Hospital Nasser.
A Associação da Imprensa Estrangeira em Jerusalém - que representa jornalistas em Israel e nos territórios palestinos - exigiu do Exército e do governo de Israel uma "explicação imediata" sobre os ataques e pediu "que cessem de uma vez por todas sua prática abominável de atacar jornalistas".
Com as restrições impostas por Israel aos veículos de comunicação em Gaza e as dificuldades de acesso ao território, a AFP não consegue verificar com fontes independentes os números e as alegações da Defesa Civil ou do Exército israelense.
Ravina Shamdasani, porta-voz do Alto Comissariado para os Direitos Humanos da ONU, reiterou que jornalistas e hospitais não são alvos militares.
O diretor da agência da ONU para refugiados palestinos (UNRWA), Philippe Lazzarini, denunciou que este ataque equivale a "calar as últimas vozes que denunciam a morte silenciosa das crianças vítimas da fome".
O presidente francês, Emmanuel Macron, classificou o bombardeio como "intolerável" e instou Israel a "respeitar o direito internacional".
O ministro das Relações Exteriores britânico, David Lammy, expressou que está "horrorizado" com o ataque e a Alemanha pediu uma investigação.
O ataque contra Israel que desencadeou a guerra em Gaza deixou 1.219 mortos, a maioria civis, segundo um balanço da AFP baseado em números oficiais.
A ofensiva israelense na Faixa de Gaza matou ao menos 62.744 palestinos, a maioria civis, segundo números do Ministério da Saúde de Gaza, considerados confiáveis pela ONU.