O ministro da Defesa de Israel, Israel Katz, criticou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nesta terça-feira (26/8). Lula foi chamado de antissemita "apoiador do Hamas" e associado ao líder supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei. O governo brasileiro ainda não se pronunciou.
"Agora, ele [Lula] revelou sua verdadeira face como antissemita declarado e apoiador do Hamas ao retirar o Brasil da IHRA - o organismo internacional criado para combater o antissemitismo e o ódio contra Israel - colocando o país ao lado de regimes como o Irã, que nega abertamente o Holocausto e ameaça destruir o Estado de Israel. Como Ministro da Defesa de Israel, afirmo: saberemos nos defender contra o eixo do mal do islamismo radical mesmo sem a ajuda de Lula e seus aliados", afirmou Katz em uma publicação em português em sua conta oficial no X.
Na publicação, o ministro israelense incluiu uma imagem gerada por inteligência artificial de Lula como um boneco de marionete, sendo manipulado por Khamenei, ilustrado como um titereiro controlando as cordas do presidente brasileiro.
Quando o presidente do Brasil, Lula @LulaOficial, desrespeitou a memória do Holocausto durante meu mandato como Ministro das Relações Exteriores, declarei-o persona non grata em Israel até que pedisse desculpas.
Agora ele revelou sua verdadeira face como antissemita declarado e… pic.twitter.com/O0rzmTYqPA
A publicação agrava ainda mais a relação diplomática entre Brasil e Israel, em crise desde o início da guerra na Faixa de Gaza. O governo brasileiro é crítico da operação israelense, que causou uma grave crise humanitária entre os palestinos.
O governo brasileiro condenou o ataque terrorista do Hamas em 7 de outubro de 2023, que deixou mais de 1.200 israelenses mortos, cerca de 250 reféns e deu início à guerra, mas adotou uma postura crítica às operações de Israel, com Lula inclusive acusando os israelenses de cometer genocídio.
Desde o ano passado, Lula tem reiteradamente acusado Israel de genocídio. Ao comparar as mortes de civis palestinos com o Holocausto, Lula foi declarado persona non grata em Israel - a comparação foi considerada ofensiva pelo governo israelense, por comparar as vítimas do nazismo a seus algozes.
Rebaixamento de relações diplomáticas entre Brasil e Israel
O governo desistiu, nesta segunda-feira (25/8), de indicar um novo embaixador ao não aprovar a indicação do diplomata Gali Dagan para o posto em Brasília.
Também na segunda-feira, o Ministério das Relações Exteriores de Israel anunciou que vai "rebaixar" as relações diplomáticas com o Brasil depois de o Itamaraty ter ignorado a indicação de um novo embaixador.
O assessor de Assuntos Internacionais da Presidência, Celso Amorim, defendeu o governo brasileiro e disse "eles humilharam nosso embaixador lá", referindo-se a Israel.
Israel havia indicado o diplomata Gali Dagan em janeiro para assumir a embaixada em Brasília. Para exercer a atividade, no entanto, é necessária a concessão de uma autorização do país que o recebe, chamada de "agrément". Tal autorização é praxe em todas as relações entre países.
A crise levou a uma reprimenda pública do embaixador brasileiro, Frederico Meyer, no Museu do Holocausto em Jerusalém. O Itamaraty considerou a atitude da chancelaria israelense hostil e chamou Meyer de volta para Brasília, sem nomear um substituto.
"Após o Brasil, excepcionalmente, se abster de responder ao pedido de agrément do Embaixador Dagan, Israel retirou o pedido, e as relações entre os países agora são conduzidas em um nível diplomático inferior", diz o comunicado do ministério.
De acordo com o Times of Israel, a chancelaria observa que a "linha crítica e hostil que o Brasil tem demonstrado em relação a Israel" desde o massacre liderado pelo Hamas em 7 de outubro de 2023, "foi intensificada" por declarações do presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva no ano passado."O Itamaraty continua a manter laços profundos com os muitos círculos de amigos de Israel no Brasil".
À TV Globo, o assessor de assuntos internacionais do Planalto, Celso Amorim, disse que a decisão de não aceitar a indicação do embaixador israelense é reflexo da retirada de Meyer do país.
"Não houve veto. Pediram um agrément e não demos. Não respondemos. Simplesmente não demos. Eles entenderam e desistiram. Eles humilharam nosso embaixador lá, uma humilhação pública. Depois daquilo, o que eles queriam?", disse Amorim.
Israel havia indicado o diplomata Gali Dagan em janeiro para assumir a embaixada em Brasília. Para exercer a atividade, no entanto, é necessária a concessão de uma autorização do país que o recebe, chamada de "agrément". Tal autorização é praxe em todas as relações entre países.
Tecnicamente, o Brasil não teria se recusado a conceder o agrément, mas deixou o pedido em análise, sem respondê-lo. Em relações internacionais, a atitude é vista como equivalente a uma recusa.
"Digo e repito: nós queremos ter uma boa relação com Israel. Mas não podemos aceitar um genocídio, que é o que está acontecendo. É uma coisa absurda o que está acontecendo lá", afirma Amorim, em relação à ofensiva israelense em Gaza. "Nós não somos contra Israel. Somos contra o que o governo Netanyahu está fazendo, que é uma barbaridade."
O Brasil retirou em maio de 2024 seu embaixador em Tel Aviv, Frederico Meyer. Desde então, o Itamaraty mantém o cargo vago, sem submeter nenhum nome à aprovação de Israel.
Israel informou ter retirado a indicação de Dagan e acrescentou que não vai submeter um novo nome ao Itamaraty, declarando que as relações com o Brasil serão conduzidas "em um patamar inferior" diplomaticamente.