O presidente da Argentina, Javier Milei, foi surpreendido neste domingo (7/9) por uma derrota nas eleições legislativas na província de Buenos Aires. Na província que concentra 40% dos eleitores argentinos, o governo Milei esperava no mínimo um empate técnico ou que a diferença em relação aos peronistas fosse de cinco pontos percentuais.

No entanto, com cerca de 80% dos votos apurados, a coalizão peronista Força Pátria, sob comando do governador Axel Kicillof, obteve 46,93% do votos, enquanto o partido de Milei, A Liberdade Avança, teve 33,85%. Os números foram divulgados pelo ministro de Governo, Carlos Bianco, e já não poderia haver mudança na posição de Milei.

De acordo com o Conselho Eleitoral da província de Buenos Aires, 63% dos eleitores registrados votaram nas eleições legislativas provinciais. A participação surpreendeu as previsões iniciais e indica que os argentinos vão votar de forma massiva nas eleições legislativas nacionais, marcadas para 26 de outubro.

O pleito na província de Buenos Aires ganhou importância nas últimas semanas após um escândalo de corrupção que abalou o governo de Javier Milei, uma economia estagnada e um veto ao aumento a aposentados e pessoas com deficiência.

Disputa aberta entre Milei e Kicillof

Serão eleitos neste pleito 46 deputados e 23 senadores locais — semelhantes aos deputados estaduais no Brasil, mas em sistema bicameral. Em termos de eleitorado, a província de Buenos Aires — que é diferente da capital federal Buenos Aires — é semelhante ao Estado de São Paulo, pois concentra 14 milhões de eleitores, em um país de 45 milhões de habitantes.

Por isso, o pleito se tornou uma disputa aberta entre Milei e o governador de Buenos Aires, Axel Kicillof, um dos mais importantes kirchneristas da atualidade e potencial candidato à presidência em 2027.

Peronismo ganha espaço

Até 15 dias atrás, várias pesquisas de intenção de voto davam vantagem sem precedentes aos candidatos libertários — alinhados ao governo — em sete das oito seções em disputa. O único local onde havia empate era no distrito número 3, o segundo maior em eleitorado e o maior reduto peronista do país. Mas problemas relacionados à economia e denúncias de corrupção prejudicaram a popularidade do governo.

Sondagens contratadas pela administração Milei apontam empate na maioria dos distritos, enquanto as sondagens opositoras veem vantagem de até cinco pontos para o peronismo. Depois de uma forte recessão seguida de uma recuperação surpreendente a ponto de alcançar consecutivos superávits históricos, a economia argentina entrou em modo de estagnação.

Depois de alcançar 25% em janeiro de 2024, a inflação argentina recuou para 2% ao mês, segundo os dados mais recentes, mas ainda permanece em 36% na taxa interanual. Economistas dizem que a inflação estagnou, mas em patamar ainda alto.

Além disso, as aposentadorias e pensões para pessoas com deficiência estão muito abaixo do mínimo para a cesta básica, e os vetos do presidente para reajustar os valores têm desagradado até mesmo sua base eleitoral e no Congresso. Por causa de um desses vetos, Milei e sua vice, Victoria Villarruel, romperam publicamente.

O respeitado Índice de Confiança no Governo, medido pela Universidade Torcuato di Tella, também deu notícias negativas ao governo. A aprovação da gestão Milei teve uma queda de 13,6% em agosto em comparação com o mês anterior. Já comparado com agosto do ano passado o recuo foi de 16,5%, uma das maiores quedas até agora.

Escândalo atinge Karina Milei

A esse cenário já ruim se soma o escândalo de corrupção que envolve a irmã do presidente, Karina Milei, também secretária-geral da presidência. Segundo áudios vazados por outro funcionário do governo, cerca de 8% dos valores de compra de medicamentos para pessoas com deficiência teriam sido destinado a pagamentos ilícitos, dos quais 3% supostamente iam para Karina. Ela votou na tarde deste domingo junto a uma escolta de militantes do partido Liberdade Avança e conversou pouco com jornalistas.

Peronistas se dividem

Já os apoiadores da ex-presidente da Argentina Cristina Kirchner estão se dividindo entre a casa da líder peronista, que cumpre prisão domiciliar, e o comitê de campanha do Força Pátria, em La Plata, capital da província. O governador Axel Kicillof convocou os peronistas a se reunir no comitê de campanha, enquanto o deputado Máximo Kirchner, filho de Cristina, foi à casa da ex-presidente, no bairro Constitución, na capital, Buenos Aires, onde também convocou sua militância.

Máximo é líder de uma dissidência mais à esquerda dentro do peronismo que se chama La Cámpora. Embora seja um peronista-kirchnerista, Kicillof protagonizou disputas abertas com Máximo, expondo uma cisão dentro do movimento. (Com informações de Carolina Marins e do jornal Folha de S.Paulo)