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Protestos no Equador: entenda movimento contra a alta dos preços de combustíveis

Há 12 dias, indígenas realizam manifestações contra o aumento do custo de vida; quatro pessoas morreram

Por Cinthya Oliveira *
Publicado em 24 de junho de 2022 | 14:49
 
 
 
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Enquanto no Brasil o valor do diesel já ultrapassa o da gasolina de forma inédita e o governo tenta lançar um programa de auxílio aos caminhoneiros, no Equador a alta dos preços dos combustíveis gerou um novo levante popular. 

Há quase duas semanas, indígenas protestam contra o aumento do custo de vida em Quito e nas principais cidades do país. Até o momento, quatro pessoas morreram em confrontos entre manifestantes e forças de segurança. O país está semiparalisado e contabiliza um prejuízo diário de US$ 50 milhões. 

Nesta quinta-feira (23), indígenas enfrentaram a polícia do Equador e tentaram entrar no Congresso, no centro de Quito, após uma tentativa do governo de abrir caminho para o diálogo. Os policiais reagiram com bombas de gás lacrimogêneo e efeito moral, enquanto os manifestantes responderam com coquetéis molotov, fogos de artifício e pedras. 

Pela manhã, o presidente direitista Guillermo Lasso havia feito uma primeira demonstração de vontade de dialogar: cedeu a um dos pedidos dos manifestantes e ordenou que os militares se retirassem da Casa da Cultura, um local simbólico para os indígenas, localizado no centro da capital equatoriana.

Essa não é a primeira vez em que os indígenas protestam contra o aumento do custo de vida. A Confederação de Nacionalidades Indígenas do Equador (Conaie), já liderou várias manifestações que levaram à queda consecutiva de três presidentes entre 1997 e 2005. Em 2019, uma onda de manifestações devido ao aumento dos preços dos combustíveis deixou 11 mortos e milhares de feridos em confrontos com a polícia.

Confira uma linha do tempo dos atuais protestos no Equador: 

  • 13 de junho:

A Conaie inicia um novo ciclo de manifestações e bloqueios de estradas em protesto contra o governo de Guillermo Lasso pelo aumento dos preços de combustíveis e do custo de vida. O movimento denuncia também a falta de empregos, exige o controle dos preços dos produtos agrícolas e se opõe à outorga de concessões de mineração em territórios indígenas.

A mobilização começa com cerca de 3.800 manifestantes em todo o país, segundo as autoridades.No poder há um ano, Lasso alertou que não autorizará o bloqueio de rodovias ou a ocupação de poços de petróleo na selva amazônica, principal produto de exportação do Equador.

 

  • 14 de junho:

O líder do movimento indígena, Leonidas Iza, é detido por paralisar o transporte público. Os protestos continuam em ao menos onze das 24 províncias do Equador. 

 

  • 15 de junho:

Leonidas Iza é libertado por ordem judicial no dia seguinte. O Ministério Público, no entanto, mantém a acusação de paralisação de serviço público, punível com até três anos de prisão.

 

  • 16 de junho:

Setor de transportes e estudantes aderem aos protestos. O acesso a dois dos principais mercados da capital, Quito, é bloqueado, assim como rodovias em 15 províncias.

 

  • 17 de junho:

Lasso anuncia estado de emergência em três províncias, incluindo a de Quito. Propõe também elevar de US$ 50 a US$ 55 um bônus econômico para "aliviar a difícil situação" das famílias mais pobres, assim como uma série de compensações aos agricultores. Floricultores reclamam que seus produtos estão apodrecendo.

 

  • 18 de junho: 

Conaie chama as medidas do governo de "ridículas".

 

  • 19 de junho: 

Polícia requisita a Casa de la Cultura Ecuatoriana, um centro cultural indígena em Quito, para transformá-la em uma base para o controle das manifestações. Estado de emergência é estendido

 

  • 20 de junho: 

Lasso estima que o movimento indígena quer "derrubá-lo" do poder e estende o estado de emergência a três novas províncias. Em seguida, divulga um vídeo que mostra imagens de manifestantes exercendo violência na rua. 

Milhares de indígenas iniciam então uma marcha pacífica em direção ao centro de Quito, vindos do sul. Centenas também saíram do norte em direção à capital. Duas pessoas são mortas e há queda na produção de petróleo. À noite, um jovem morre ao cair em um barranco durante as manifestações. A promotoria abre uma investigação por suposto homicídio.

 

  • 21 de junho:

Um indígena morre durante um confronto com a polícia na cidade amazônica de Puyo, depois de ter "manipulado um artefato explosivo", segundo as autoridades, "atingido no rosto, aparentemente por uma granada de gás lacrimogêneo", segundo uma ONG.

Na mesma cidade, uma delegacia é incendiada e seis policiais ficam gravemente feridos, três são sequestrados (por uma comunidade indígena) e 18 estão desaparecidos

Ministro da Defesa, Luis Lara, chama os protestos de "sério risco" para a democracia. (AFP)

Como consequência dos protestos, a produção de petróleo do Equador cai cerca de 100 mil barris por dia (-21%).

 

23 de junho:

Indígenas tentam entrar no edifício do Congresso Nacional

(* Com informações da AFP)

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