Chegou o outono. Tempo de transição entre os extremos do calor insólito do verão, que ficou para trás, e do frio incerto do inverno, que virá depois. Tempo de passagem. Tempo de amadurecimento e das últimas colheitas para construir as reservas que permitirão transpor o inverno. Tempo de reflexão e de avaliação do que foi feito até aqui de acerto e de erro.
Vale lembrar que é tempo para fazer escolhas. O que precisa ser deixado de lado? Do que se precisa abrir mão para atingir os resultados? Quais serão as estratégias a seguir para obter os objetivos traçados?
Na primeira reunião sob o comando do presidente do Banco Central escolhido por Jair Bolsonaro, na quarta-feira que passou, o Copom manteve inalterada a taxa básica de juros, no seu nível histórico mais baixo (6,5%); e indicou que o ambiente econômico recomenda a fixação da taxa de juros abaixo da taxa estrutural. O novo governo, corretamente, segue a estratégia exitosa da política monetária do governo anterior.
Mas a autoridade monetária alertou que a continuidade do processo de reformas e os ajustes necessários na economia brasileira são essenciais para o controle da inflação e para a recuperação sustentável da economia.
A reforma da Previdência, que já tramita na Câmara dos Deputados, é o primeiro item da agenda de mudanças implícito no comunicado do Banco Central.
No entanto, não é possível identificar no governo uma estratégia clara e racional para aprovar a reforma da Previdência. Ao contrário, evidências sugerem conflitos de objetivos, iniciativas divergentes e ausência de firme liderança coordenando todas as ações.
A complexidade da reforma da Previdência exige que o governo convença a sociedade de sua relevância e de seus propósitos e mostre o que virá a seguir. No outono não é tempo para aquecer ainda mais o calor de lutas passadas, travadas no verão da disputa eleitoral. É tempo para deixar o palanque e estender as mãos. É tempo de colheitas, não de queimadas.
A falta de estratégia resulta em disputas por agendas individuais descoordenadas no tempo. O exemplo desta semana foi o bate-boca público entre o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e o ministro da Justiça, Sergio Moro, sobre o andamento imediato do projeto anticrime. Por mais meritória que seja essa proposta, sua tramitação simultânea à PEC da Previdência, como já mencionei neste espaço, poderá inviabilizar a formação de base sólida e também qualquer votação nos próximos meses. O anúncio extemporâneo do ministro da Economia, Paulo Guedes, dizendo que enviará ao Senado um projeto de reforma constitucional para desvincular gastos setoriais da Receita, se cumprido, causará mais conflitos.
Sem definir uma estratégia racional e pacificar as divergências internas, o governo poderá perder sua batalha neste outono. O governo Bolsonaro precisa de bom senso e de uma estratégia racional para implementar uma agenda de reformas, crível e com respaldo popular, antes que seja tarde.