Há 150 anos, chegava ao Brasil, em 1874, a convite do imperador dom Pedro II, o mineralogista francês Claude-Henri Gorceix. Dois anos depois, em 1876, ele fundaria a Escola de Minas de Ouro Preto, que teria contribuição pioneira e essencial na formação histórica, econômica e científica de Minas Gerais em aproveitamento ao imenso potencial mineral do Estado – que deve seu nome e sua origem à essa herança natural.
Com sólida formação científica em mineralogia, metalurgia, geologia, matemática e física e participação em várias pesquisas de campo na Europa, formaria gerações de engenheiros com mentalidade desenvolvimentista e que dariam contribuições fundamentais ao avanço de Minas Gerais nos vários ramos da engenharia, na pesquisa mineral, na siderurgia, geologia, mineração e na moderna industrialização do Estado.
Nascido em Saint-Denis-des-Murs, no sul da França, foi professor da Escola de Minas de Paris. Permaneceu em Ouro Preto por 17 anos, até 1891, dois anos após a Proclamação da República, que tirou do poder dom Pedro II, seu amigo e apoiador. Foi o imperador que o trouxera para Minas Gerais com a missão de pesquisar o potencial mineralógico do Estado e formar engenheiros com rigor nos diversos ramos da mineralogia.
Com a Escola de Farmácia, de 1839, a Escola de Minas foi o embrião da Universidade de Ouro Preto, de 1960, e hoje sua atuação compreende modernos ramos da engenharia, incluindo a civil, ferroviária, ambiental e de produção, além de consultorias e experimentações com a criação da Fundação Gorceix.
Gorceix deixou 51 publicações, entre pesquisas mineralógicas, estudos técnico-científicos, estudos sobre vocações e potencialidades regionais de Minas Gerais, entre palestras e conferências. Estudou e avaliou ocorrências minerais, jazidas do minério de ferro, diamantes, estudou fósseis e dialogou com Peter Lund, naturalista dinamarquês em Lagoa Santa.
Formou coleção de minerais e fósseis até hoje expostos na Escola de Ouro Preto, uma das maiores do mundo; fez relatórios a dom Pedro II, que o visitou por duas vezes em Ouro Preto; iniciou um Observatório Astronômico com telescópio e com apoio de Pedro II, para estudos meteorológicos e climáticos; adquiriu vários aparelhos para o ensino e pesquisas modernas das engenharias.
Do exemplo e da postura de Gorceix resulta o lema da Escola de Minas, “Cum mente et malleo”, que expressa sua concepção de ensino, atuação e trabalho. Para ele, o mineralogista deve aliar à boa formação científica a pesquisa e a experimentação, associadas ao trabalho de campo, simbolizado pelo martelo.
Os engenheiros da Escola de Minas destacaram-se, no desenvolvimento industrial mineiro, com a fundação e gestão de iniciativas minerais, na siderurgia e na metalurgia, como a Usiminas, Acesita, Gerdau, Belgo Mineira e dezenas de empreendimentos metalúrgicos e minerações.
Especialmente, no ensino e na formação de recursos humanos.
Gorceix retornou à sua terra natal, mas, em 12 de outubro de 1970, no 94º aniversário da escola, seus restos mortais, exumados do cemitério de Saint-Denis-des-Murs, foram trazidos para Ouro Preto e depositados no Mausoléu Gorceix, no antigo Palácio dos Governadores, sede da escola, na Praça Tiradentes, onde também está seu busto.
(*) Mauro Werkema é jornalista