A inércia institucional é um fenômeno que desafia muitas organizações, retardando a adoção de mudanças benéficas e limitando a otimização da eficiência. Nessa linha de intelecção, de pronto, é oportuno destacar como exemplo o layout QWERTY dos teclados de computador.

Desenvolvido originalmente para máquinas de escrever mecânicas, no final do século XIX, o layout QWERTY foi projetado para minimizar as colisões entre as hastes das letras mais comuns, visando aumentar a velocidade de digitação e reduzir travamentos.

Contudo, com o advento da era digital, as limitações físicas das máquinas de escrever tornaram-se obsoletas, e a justificativa original principal para o layout QWERTY deixou de ser relevante. Os computadores não sofrem com o problema das colisões entre as hastes das letras, proporcionando uma oportunidade para repensar e otimizar a disposição das teclas.

Apesar disso, o layout QWERTY persiste como o padrão predominante nos teclados de computador. Argumenta-se que a manutenção está justificada na familiaridade dos usuários, na compatibilidade com sistemas existentes, na resistência à mudança e na falta de incentivo para adoção de uma alternativa.

Embora compreendamos o valor da familiaridade e da compatibilidade, é fundamental reconhecer que a inovação impõe coragem para desafiar o status quo. A resistência à mudança e a complacência com o que é familiar podem ser obstáculos para a busca da eficiência.

Daí ser imperativo que as organizações busquem constantemente maneiras de superar a inércia institucional, promovendo uma cultura de inovação e adaptabilidade e incentivando o estabelecimento de um ambiente que valorize a criatividade e o pensamento crítico. Afinal, embora a mudança possa ser desafiadora, os benefícios de uma abordagem inovadora e voltada para o futuro são inegáveis.

Ao buscar constantemente maneiras de aperfeiçoamento, as instituições se reposicionam melhor diante do inevitável enfrentamento dos desafios gerados cotidianamente em uma sociedade em incessante e célere mudança, capacitando-se para prosperar em um ambiente competitivo e dinâmico.

A citação do layout QWERTY neste ensaio a respeito da inércia institucional, importante esclarecer, não sugere a promoção de mudanças simplesmente pelo prazer de mudar, mas, sim, busca chamar atenção para um ponto crítico: a inovação impõe o desafio de promover alterações nos sistemas estabelecidos. Mais do que simplesmente alterar, é imperioso o esforço contínuo para o aperfeiçoamento dos sistemas, inexoravelmente, de maneira reflexiva e responsiva às necessidades atuais. 

No caso do layout QWERTY, não se ignora que adaptações têm sido empreendidas para melhorar a ergonomia e a eficiência em favor dos usuários em diferentes contextos tecnológicos e linguísticos, o que, por um lado, demonstra a razão, até hoje, da manutenção de grande parte de sua estrutura original, mas que, por outro, evidencia que não pode ser visto como insubstituível; no máximo, por ora, de difícil substituição.

Daí que, se por um lado alguns conformam-se com a preservação do layout QWERTY no teclado de um computador, também há aqueles que enxergam na inovação contínua uma poderosa bússola de orientação do caminho rumo à boa governança, imprescindível à sobrevivência e evolução de toda e qualquer instituição.

(*) Especialista em divisão de poderes, ministério público e judicialização, pelo Centro de Estudos e Aperfeiçoamento Funcional do MPMG (Ceaf/MPMG). Mestrando em direito político e econômico pela Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM-SP).