A catástrofe climática que atingiu o Rio Grande do Sul, contabilizando milhares de mortes, destruição de cidades inteiras e impactos na produção de um Estado com significativa importância agropecuária, aponta a necessidade de reflexão sobre o papel dos produtores rurais na defesa do meio ambiente.
Os agricultores e pecuaristas do nosso país trabalham de forma moderna e sustentável para que sejamos referência mundial em agricultura e pecuária regenerativa, com baixa emissão de carbono, uso de energia limpa, bioinsumos e economia circular. O Brasil é o único país no mundo que preserva 63,3% do seu território, sendo que mais de 33% dessa parcela está dentro das propriedades rurais.
E por que estou dizendo isso? Porque sabemos que o triste cenário que nossos irmãos gaúchos enfrentam hoje foi ocasionado pelo fenômeno El Niño, com o bloqueio das frentes frias, o que fez com que as áreas de instabilidade se concentrassem naquela região.
Neste momento, é necessário reforçar para a sociedade urbana que a agropecuária não é responsável, mas a solução para os problemas climáticos que afetam o Brasil e o mundo inteiro. Ao exercerem uma atividade produtiva ambientalmente correta, os produtores rurais brasileiros se mostram guardiões do meio ambiente, sendo fundamentais para garantir desenvolvimento e segurança alimentar.
O que ocorreu no Rio Grande do Sul foi uma tragédia sem precedentes. Por isso, o Sistema Faemg Senar se uniu a outras federações do país, sob a coordenação da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), no projeto SuperAção Rio Grande do Sul. O objetivo é ajudar a reconstruir a agropecuária gaúcha, para que os homens e mulheres do campo recuperem a sua dignidade e consigam voltar a produzir alimentos.
Cerca de 300 técnicos de campo e instrutores das mais diversas cadeias produtivas atuarão diretamente nas áreas afetadas. É mão de obra qualificada de todo o país trabalhando unida. Especialmente em Minas Gerais, temos uma experiência muito bem-sucedida no assunto: conseguimos que os produtores impactados pelo rompimento da barragem de Brumadinho, em 2019, se reerguessem.
Em dois anos, eles tiveram aumento de até 50% na renda e de até 45% na produção de alimentos. Além da capacidade de voltar a produzir, conseguimos que eles tivessem um canal de venda direta, sem a necessidade de atravessadores.
Como representante dos produtores rurais que tanto sofreram na época da tragédia mineira, me sinto no dever de tranquilizar a população em relação ao fornecimento de arroz – o Estado gaúcho é responsável por 70% da produção nacional do grão. Não houve perda significativa nessa cadeia, nem em produção, nem em colheita e tampouco na armazenagem.
Por isso, o brasileiro não precisa se preocupar com a falta desse alimento básico. Somos contra as importações e incentivamos a compra e o consumo de produtos rio-grandenses. Estamos e estaremos sempre unidos na defesa e representatividade da nossa classe.
Antônio Pitangui de Salvo
Engenheiro agrônomo e presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais