A arte é uma manifestação essencialmente humana que ultrapassa o tempo e reflete, em cada período histórico, as transformações sociais, políticas e culturais. Ao olhar para Minas Gerais, percebe-se um território cuja identidade se entrelaça profundamente às expressões artísticas, tornando-se um espelho da jornada da humanidade por meio de diferentes movimentos estéticos e intelectuais.
O barroco, com suas formas rebuscadas e contrastes dramáticos, expressa o espírito de um tempo em que fé e razão se confrontavam em uma dança simbólica. Em Minas, o barroco não é apenas um estilo, mas uma linguagem existencial que moldou formas de ver e sentir o mundo. O entalhe das curvas e o uso magistral da luz e sombra, tão presentes na arte e arquitetura desse período, materializam a tensão entre o divino e o humano, o efêmero e o eterno.
Com o historicismo e a busca por reconstruir um passado idealizado, surge um novo olhar sobre as tradições. A história é elevada a símbolo de continuidade e pertencimento, criando pontes simbólicas com os legados do passado, mas também reinterpretando-os. Nesse processo, a memória coletiva se consolida em representações que celebram a trajetória de um povo sem esquecer suas contradições.
O período romântico, por sua vez, trouxe a exaltação das subjetividades e do imaginário coletivo. O ideal de liberdade e a valorização das narrativas individuais fizeram surgir um sentimento profundo de enraizamento e de ligação com a terra e suas paisagens. Em Minas Gerais, esse romantismo traduziu-se não apenas na literatura e nas artes visuais, mas também na maneira de viver a cultura e preservar memórias. Esse ideal de liberdade está na nossa bandeira. A liberdade: sem ela não há criação e nem o novo, o vir a ser.
A modernidade trouxe consigo a ruptura com os modelos consagrados e o desejo de inovação. A busca por formas mais racionais e funcionais, ao mesmo tempo em que celebrava a experimentação estética, refletiu uma nova percepção de espaço e tempo. Em Minas Gerais, a modernidade não apagou as marcas do passado, mas as reinterpretou, criando diálogos que, por vezes, desafiavam as fronteiras entre o novo e o antigo.
Na pós-modernidade e na contemporaneidade, a arte mineira reafirma sua pluralidade e complexidade. São tempos marcados pela desconstrução de discursos hegemônicos e pela valorização da diversidade de vozes e territórios. O que antes era visto como periférico assume protagonismo, e as manifestações culturais passam a refletir a multiplicidade de identidades e histórias. O contemporâneo mina qualquer narrativa única e celebra o múltiplo, o híbrido e o fragmentado.
O Ano das Artes em Minas Gerais não é apenas uma celebração de estilos e períodos, mas um convite à reflexão sobre o papel transformador da arte na vida cotidiana. Ele simboliza a reafirmação da arte como força vital, capaz de conectar tempos e experiências, ressignificar legados e ampliar horizontes.
A arte mineira, ao atravessar o barroco, o romantismo, a modernidade e os desafios contemporâneos, nos lembra que a criação artística é, acima de tudo, um processo de resistência e renovação. Ela não apenas registra a história, mas também a recria, conferindo ao presente novos sentidos. Que o Ano das Artes inspire a percepção de que a arte não está à margem da vida: ela é a própria narrativa da condição humana em seu desejo incessante de significar o mundo.
(*) Leônidas de Oliveira é secretário de Estado de Cultura e Turismo de Minas Gerais