Ah, quero tanto que Alice volte... Quero muito enxergar o mundo pelos olhos encantados da Alice. Quero ficar de boca aberta encantada com o pôr do sol. Quero chorar assistindo a um filme de amor, quero dançar na chuva e comer na panela. Ah, quero ser Alice neste ano que acaba de nascer.
Olhar alunos, professores e pais com os olhos de uma criança de cinco anos, com toda a pureza e certeza de que ninguém me fará mal algum. Que todos iremos caminhar de mãos dadas, como fazem os amantes nos bosques floridos. Que aquela tão deseja e sonhada parceria, seja um verdadeiro ato de comunhão entre todos.
Quero ser surpreendida com falas que irão me enlouquecer de orgulho. Saber que todos ao meu redor estão prontos para o embarque a qualquer hora, e isso será feito com a gentileza e alegria de quem navega na vida totalmente destemido.
Quero meus olhos brilhando, curiosos como se tivessem apenas três aninhos de idade e esperasse o Papai Noel chegar, a cada chegada de alguém especial em meus dias. Que cada um que passe pelo meu caminho, passe em passos lentos, sem pressa e com muito cuidado para não derrubar nada e, caso algo seja destruído, que seja rápida a reconstrução, seja também carregada de afeto.
Quero minhas decisões leves, claras, diretas e bem objetivas e, quando minha fala atropelar alguém, quero que esse alguém se levante e me coloque de volta no meu lugar de Alice. Não quero ser rude, mal-educada, ranzinza, ou mesmo chata, quero paz e baldes e mais baldes de pipocas a serem saboreadas em boas companhias.
As minhas certezas da vida? Bem, essas eu quero que desapareçam. Não quero ter certeza de nada e tampouco brigar para defender isso ou aquilo. Quero só a certeza de que sou apenas uma linda e curiosa aprendiz da vida, e, na vida, quero só viver.
Quero que minha cuca continue me desafiando a criar, criar, criar e não me coloque num lugar comum, sendo alguém comum, fazendo sempre tudo igual. Ah, odeio isso! Quero a insanidade dos que pensam que sempre podem ser e fazer diferente.
As dores, as que existem e insistem em permanecer e as que talvez chegarão, quero que todas elas vão para o fundo do baú e se percam na sua própria crueldade ou que não me perturbem mais do que o necessário para me lembrar que preciso me cuidar.
Quero acreditar no mundo com pessoas boas, que só fazem e querem o bem umas das outras, com a mesma pureza da Alice que se encanta com o país das maravilhas.
Sei que não estamos no país das maravilhas e também não sou a Alice, mas o meu querer é tão forte, tão forte, que se eu fechar os olhos consigo me enxergar correndo livre, leve e solta como Alice.
Que pena que a vida adulta nos coloca em lugares tão cruéis às vezes. Não quero esse corpo de adulta para olhar para este ano que está nascendo. Quero enxergar o mundo pelos olhos da Alice e me encantar com tudo, buscando sempre uma maneira de encontrar, em mim e no meu semelhante, a pureza de uma criança.
Que 2025 faça com que a Alice sempre volte para o meu corpo de adulta, toda vez que eu me perder de mim, para que eu possa ser espelho de paz, tranquilidade, alegria, criatividade, esperança e fé em pessoas melhores ao meu redor e ser uma pessoa melhor para os que me acompanham.
(*) Jacqueline Caixeta é supervisora pedagógica e palestrante