Por Bruno Beato, cardiologista especialista em arritmias cardíacas
O consumo excessivo de álcool é um hábito comum em festas, feriados e eventos comemorativos. Muitas pessoas acreditam que exagerar ocasionalmente não traz grandes riscos à saúde, mas o que poucos sabem é que essa prática pode desencadear problemas cardíacos graves mesmo em pessoas sem histórico de doenças cardiovasculares.
Um desses problemas é a chamada Síndrome do Coração de Feriado, descrita pela primeira vez em 1978. A condição se refere ao surgimento de arritmias cardíacas, especialmente fibrilação atrial, após o consumo exagerado de álcool.
A fibrilação atrial é um ritmo cardíaco irregular que pode causar palpitações, tontura, falta de ar e aumentar o risco de acidente vascular cerebral (AVC). O mais preocupante é que isso pode ocorrer mesmo em indivíduos saudáveis, sem qualquer indício prévio de doença cardíaca.
Isso porque o álcool interfere diretamente no sistema elétrico do coração, responsável por coordenar os batimentos cardíacos. Seu consumo excessivo pode levar a uma desregulação da atividade cardíaca, favorecendo o desenvolvimento de arritmias.
Estudos demonstram que durante o consumo de álcool, há um aumento na frequência cardíaca e na pressão arterial. Após o efeito da bebida, ocorre um desequilíbrio no sistema nervoso, que regula os batimentos cardíacos, tornando o coração mais vulnerável a arritmias. Além disso, o álcool pode alterar os níveis de eletrólitos no sangue, que são essenciais para a condução elétrica do coração, aumentando o risco de batimentos irregulares.
Essas mudanças deixam o coração instável, favorecendo episódios de fibrilação atrial e, em casos raros, arritmias mais graves, como a fibrilação ventricular, que pode levar à morte súbita.
Sinais de alerta
Após uma noite de consumo excessivo de álcool, algumas pessoas podem apresentar sintomas como palpitações, tontura e fraqueza; falta de ar, dor no peito (embora menos comum, pode indicar um problema mais sério).
Se algum desses sintomas ocorrer, é fundamental procurar atendimento médico imediatamente. Em muitos casos, a arritmia pode desaparecer sozinha em algumas horas, mas, em outros, pode evoluir para complicações mais graves e exigir tratamento especializado.
Pessoas com histórico de doenças cardíacas, mesmo que controladas, hipertensos e diabéticos, que já possuem maior propensão a problemas cardiovasculares, idosos, cujo coração pode ser mais sensível a alterações no ritmo cardíaco, e indivíduos que consomem álcool frequentemente em grandes quantidades são os mais vulneráveis.
O álcool sempre causa essa síndrome?
Nem sempre. O risco aumenta quando há exagero no consumo, especialmente quando o álcool é combinado com fatores como desidratação, estresse, noites mal dormidas e uso de energéticos.
Para evitar problemas cardíacos relacionados ao álcool, a dica é moderação. Pequenas quantidades ocasionais não costumam causar problemas, mas o excesso pode ser perigoso. Além disso, invista em:
• Hidratação adequada antes, durante e depois do consumo de álcool.
• Evite misturar álcool com energéticos ou outras substâncias estimulantes, pois isso pode sobrecarregar o coração.
• Pessoas com histórico de problemas cardíacos devem consultar um médico para avaliar se o consumo de álcool é seguro para elas.
Embora muitas pessoas possam beber socialmente sem consequências, os exageros podem desencadear arritmias cardíacas e outras complicações, algumas potencialmente fatais.
Se, após um evento com consumo excessivo de álcool, surgirem sintomas como palpitações, tontura ou falta de ar, é essencial buscar atendimento médico. Ignorar esses sinais pode colocar a saúde e a vida em risco.