Bruno Dala Vedova Gomes Beato é cardiologista especialista em arritmias cardíacas

Quando pensamos em coração, logo lembramos de alimentação saudável, prática de exercícios e consultas médicas regulares. Da mesma forma, quando falamos de saúde mental, associamos ao controle do estresse, da ansiedade e à importância de buscar equilíbrio emocional. O que muitas vezes passa despercebido é que essas duas dimensões da vida – mente e coração – estão intimamente ligadas, funcionando como uma verdadeira via de mão dupla.

Estudos recentes mostram que pessoas com boa saúde mental, caracterizada por otimismo, bem-estar e resiliência, apresentam menor risco de desenvolver doenças cardiovasculares. Em contrapartida, quem enfrenta quadros de depressão, ansiedade ou estresse crônico tem maior probabilidade de desenvolver hipertensão, infarto e até insuficiência cardíaca. Isso acontece porque emoções negativas e sobrecarga psicológica influenciam diretamente a pressão arterial, os níveis de inflamação no corpo e até os hábitos de vida, como sono, atividade física e alimentação.

Mas a relação também funciona no sentido inverso: viver um problema no coração, como um infarto ou arritmia, pode desencadear sentimentos de medo, insegurança, tristeza e até quadros de depressão ou estresse pós-traumático. A rotina de consultas, medicamentos e mudanças de estilo de vida pode ser desafiadora, afetando não apenas o paciente, mas também sua família. Quando não cuidada, essa sobrecarga emocional pode comprometer a adesão ao tratamento e dificultar a recuperação.

Cuidar da mente e do coração

O recado é claro: cuidar do coração passa também por cuidar da mente – e vice-versa. Manter laços sociais, praticar atividades prazerosas, adotar técnicas de relaxamento e não hesitar em procurar ajuda psicológica ou psiquiátrica quando necessário são passos fundamentais. O mesmo vale para quem já tem alguma doença cardíaca: acompanhar a saúde mental deve fazer parte do tratamento tanto quanto os remédios e exames.

Promover a saúde integral significa entender que corpo e mente não andam separados. O coração sente o peso das emoções, e a mente responde às condições físicas do corpo. Reconhecer essa conexão é um convite para que cada um de nós valorize mais o autocuidado e para que a sociedade dê a devida importância à saúde emocional como parte essencial da prevenção cardiovascular. Afinal, viver bem é equilibrar os batimentos do coração com a serenidade da mente.