Saulo Penaforte jornalista

A vitória de Donald Trump nas eleições presidenciais de 2024 é mais do que um evento político isolado: é um sintoma de uma crise estrutural no campo progressista mundial, que tem falhado em conter a ascensão de líderes ultraconservadores e de extrema direita. 

Esse fenômeno expõe a dificuldade de muitos movimentos progressistas em responder às demandas populares de forma convincente, ao mesmo tempo em que os setores conservadores avançam com discursos simplificados, mas altamente eficazes.

Trump, que em 2016 já tinha representado um rompimento com as normas políticas tradicionais, retorna ao poder com uma plataforma ainda mais polarizadora. Sua vitória reflete um mundo que, em grande parte, se sente desiludido com as promessas progressistas. 

Movimentos baseados em inclusão, igualdade e justiça social enfrentam o desafio de comunicar suas propostas a uma população cada vez mais desconfiada e afetada por crises econômicas, desigualdades crescentes e pela sensação de perda de identidade cultural em um mundo globalizado.

Os líderes progressistas têm priorizado agendas globais, como o combate às mudanças climáticas e a promoção de direitos humanos, mas sem abordar de forma tangível as preocupações imediatas de grande parte da população. Isso criou um vácuo político que foi explorado por líderes de extrema direita, que oferecem soluções simplistas e apelam para o medo e a nostalgia de um passado idealizado.

Trump construiu sua campanha sobre os pilares do nacionalismo econômico, do reforço à segurança fronteiriça e do combate à “cultura woke”. Para uma parcela significativa da população, essas mensagens soaram como uma resposta às incertezas provocadas por mudanças culturais e econômicas.

 
O campo progressista, por outro lado, falhou em oferecer narrativas igualmente mobilizadoras, permanecendo preso a discursos técnicos ou considerados elitistas por muitos eleitores.
Globalmente, a reeleição de Trump serve como combustível para outros líderes ultraconservadores que se alimentam da insatisfação popular. A Europa, por exemplo, tem visto o crescimento de partidos nacionalistas e eurocéticos, enquanto na América Latina o discurso contra pautas progressistas encontra cada vez mais espaço.

É essencial que o campo progressista abandone a postura defensiva e reconstrua sua conexão com as bases populares. Isso implica dialogar diretamente com as preocupações reais das pessoas, sem abrir mão de princípios fundamentais, como inclusão e direitos humanos.

A vitória de Trump em 2025 é um alerta para o mundo. Ela mostra que, sem uma renovação profunda, prosseguirá a ascensão de lideranças que desafiam valores democráticos e enfraquecem avanços sociais. O desafio, agora, é transformar esse momento em oportunidade de reconstrução e resistência.