Hugo Garbe é docente de Ciências Econômicas da Universidade Presbiteriana Mackenzie
Nos últimos meses, quem vai ao supermercado tem sentido no bolso um impacto que vai muito além da inflação oficial. Alimentos básicos, que sempre foram considerados acessíveis, como o ovo, estão cada vez mais caros. Para milhões de brasileiros, esse aumento não é apenas um número nas estatísticas econômicas, mas uma realidade que pesa no orçamento do dia a dia.
Se antes o ovo era visto como uma alternativa barata à carne, agora ele próprio se tornou um item caro. O que está por trás dessa alta e até que ponto ela pode afetar a segurança alimentar da população?
A resposta para essa pergunta passa por uma combinação de fatores que se retroalimentam. O primeiro e mais evidente é o aumento do custo da ração animal. As galinhas poedeiras se alimentam, principalmente, de milho e farelo de soja – duas commodities que têm seus preços atrelados ao mercado internacional. Com eventos climáticos extremos afetando as safras e a alta do dólar encarecendo a importação de insumos, o custo de produção subiu.
Outro fator importante é a pressão logística. O preço dos combustíveis aumentou nos últimos anos, impactando o transporte dos alimentos do campo até os centros urbanos. Além disso, a energia elétrica usada na produção e refrigeração também ficou mais cara, elevando os custos operacionais para os produtores.
E como se isso não bastasse, há ainda a questão da demanda. Com o preço da carne bovina e do frango em patamares elevados, muita gente passou a consumir mais ovos como fonte de proteína, aumentando a procura e pressionando os preços para cima.
Para as famílias de menor renda, que já destinam uma parcela significativa do orçamento para a alimentação, essa alta tem sido especialmente cruel. O preço dos alimentos subiu mais do que a renda da maioria dos brasileiros, tornando a cesta básica cada vez mais inacessível.
A consequência imediata disso é a mudança nos hábitos alimentares. Quando os preços dos alimentos aumentam, as famílias tendem a reduzir o consumo de itens mais nutritivos e diversificados, optando por produtos ultraprocessados, que muitas vezes são mais baratos, mas também menos saudáveis.
Além disso, a alta nos preços dos alimentos gera um efeito em cascata na economia. Quando uma parte maior da renda precisa ser destinada à alimentação, sobra menos dinheiro para outros gastos, o que pode desacelerar o consumo em outros setores e afetar o crescimento econômico como um todo.
Não há uma resposta simples para conter a alta dos preços dos alimentos, mas algumas medidas podem ajudar. O fortalecimento da produção nacional de grãos, por exemplo, pode reduzir a dependência do Brasil em relação ao mercado externo e diminuir a vulnerabilidade dos preços às flutuações internacionais.
Outra alternativa é a desoneração de tributos sobre os alimentos básicos. No Brasil, a carga tributária sobre alimentos é relativamente alta, e uma política de redução temporária de impostos pode ajudar a aliviar os preços no curto prazo.
Por fim, é fundamental ampliar programas de segurança alimentar para proteger as famílias mais vulneráveis. Políticas públicas que garantam acesso a alimentos nutritivos a preços acessíveis são essenciais para evitar que a alta de preços se transforme em um problema de saúde pública.
A alta no preço dos ovos e de outros alimentos essenciais reflete um problema maior: a dificuldade de milhões de brasileiros em garantir uma alimentação de qualidade diante da perda do poder de compra. Se nada for feito, essa pressão no orçamento das famílias pode levar a um quadro ainda mais grave de insegurança alimentar no país.
A questão que fica é: até quando os brasileiros terão que lidar com esse peso no bolso sem uma resposta efetiva? O debate sobre os preços dos alimentos precisa ser prioridade na agenda econômica, pois afeta diretamente a qualidade de vida da população e a estabilidade do país como um todo.