Vera Simone Schaefer Kalsing é professora Associada do Departamento de Ciências Humanas da Universidade Federal de Lavras (Ufla)

Em meio às manifestações do Maio Roxo, mês reservado à conscientização sobre doenças invisíveis, proponho uma breve reflexão.

A sociedade dita moderna ocidental possibilitou melhores condições de vida para a população, embora a grande maioria não esteja ainda incluída, sobretudo no Brasil. Se, de algum modo, nos vemos diante de mais opções de escolha em relação a trabalho, emprego, inclusive a tratamento quando estamos doentes, também é verdade que a vida moderna nos adoeceu sobremaneira e trouxe consigo diversos males. 

Estresse, transtornos de ansiedade, depressão, síndrome do pânico, enxaqueca crônica, doenças como lúpus, fibromialgia, e outras tantas que acometem cada vez mais pessoas ao redor do mundo. À vista disso, nos vemos diante de outro mal: o preconceito, talvez possamos dizer, a discriminação de gênero, posto que, em muitos casos, as maiores acometidas por essas enfermidades são mulheres.

Desconfiança

Muitas dessas doenças guardam relação com questões psíquicas e emocionais, não havendo a possibilidade de serem diagnosticadas pelos usuais exames de laboratório e, neste momento, comumente pairam dúvidas: “a doença é real ou ela está inventando?” Assim, muitas mulheres que procuram por auxílio, apoio, atendimento não os encontram e, ao contrário, são julgadas, olhadas com desconfiança, o que só agrava o seu estado, seja ele físico, mental, emocional, ou tudo junto.

Falando em particular da fibromialgia, enfermidade sobre a qual ainda há muito o que se descobrir, trata-se praticamente de um mal feminino, posto que, em cada 10 casos, oito são mulheres. Dados revelam que no mundo todo, 2,5% são acometidos e, no Brasil, 3%. Em razão de a fibromialgia ser uma doença de difícil diagnóstico, é comum as mulheres penarem meses ou até anos sem saber de fato a enfermidade da qual padecem, o que agrava ainda mais o seu sofrimento considerando que não dispõem de tratamento adequado.

Aspectos socioeconômicos

Outrossim aspectos socioeconômicos impactam de forma significativa a qualidade de vida de quem é diagnosticado com fibromialgia. Para pessoas com boas condições, é possível tolerar melhor os sintomas, sendo, contudo, impossível impedir as crises. 

Em relação às mulheres empobrecidas, como lidam com os desconfortos? Que são inúmeros e diários, afetam o bem-estar, a autoestima, e vão muito além do desempenho no trabalho, trazendo prejuízos também às relações interpessoais e familiares.
Projetos de lei tramitam no país e já foram aprovados em 18 estados brasileiros e no Distrito Federal, em busca de melhores condições de tratamento e assistência a pessoas com fibromialgia.

Todavia, é importante destacar que acessibilidade e inclusão para pacientes fibromiálgicos vão muito além de programas de assistência que devem inclusive ser compostos por uma equipe multidisciplinar, prevendo acompanhamento de fisioterapeutas, educadores físicos, nutricionistas, psicólogos, psiquiatras, neurologistas, reumatologistas. O acesso a medicamentos, terapias, exames e consultas médicas são fundamentais, notadamente para pessoas de baixa renda, assim como medidas pontuais como, jornadas de trabalho mais flexíveis, adaptações das atividades realizadas, etc.

Fim do preconceito

Ademais, é condição sine qua non uma mudança no olhar da sociedade, o que pressupõe atitudes mais compreensivas, eliminação do preconceito, buscando evitar que pessoas sejam demitidas em razão de faltas no trabalho, ou sejam olhadas com desconfiança quando precisam tirar licença. Enfim, implica que sejam tratadas com respeito e condições dignas, sem ter que provar que não estão fazendo “corpo mole” e sim, sua dor e seu sofrimento são reais!