Adriana Santos é jornalista, pesquisadora e especialista em Comunicação e Saúde
A atenção humanizada passou a integrar oficialmente os princípios do Sistema Único de Saúde (SUS). A mudança está prevista na Lei 15.126, de 2025, sancionada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e publicada no Diário Oficial da União (DOU) desta terça-feira (29).
A nova norma altera a Lei Orgânica da Saúde (Lei 8.080, de 1990) e determina que o SUS tenha, como dever legal, garantir que os serviços de saúde ofereçam acolhimento mais respeitoso e empático, levando em conta as necessidades, os sentimentos e a dignidade dos pacientes.
Com isso, o atendimento humanizado passa a ser reconhecido como diretriz legal do SUS, ao lado de outros princípios fundamentais, como a integralidade, a universalidade e a equidade.
Mas o que é, afinal, atendimento humanizado?
Trata-se de um conjunto de estratégias que valorizam a proximidade, a autonomia, a linguagem simples, a inclusão, a empatia, a troca de saberes, o diálogo, os ambientes saudáveis, o reconhecimento dos direitos dos pacientes, a valorização dos profissionais de saúde e a autenticidade nas interações. Tais práticas permitem que, mesmo em um cenário de tecnologia em potência máxima, as conexões humanas se mantenham verdadeiras e impactantes.
Em um mundo onde a tecnologia, mediada pelas redes sociais e pela inteligência artificial, tornou-se o eixo central das interações, a capacidade de estabelecer relacionamentos genuínos é o que diferencia os profissionais de saúde que se destacam. Isso significa ouvir ativamente os pacientes, compreender suas necessidades e preocupações, além de demonstrar disponibilidade e acessibilidade.
No entanto, muitos profissionais acabam mais preocupados com as possibilidades digitais do que com o que é essencialmente humano. Focam em diagnósticos rápidos, mas deixam de considerar aquilo que o paciente realmente está sentindo – no corpo físico, no emocional e até no espiritual.
Tecnologias sociais
Nesse contexto, o pensamento do filósofo francês Emmanuel Levinas oferece uma contribuição valiosa. Em sua obra “Totalidade e Infinito” (Totalité et Infini), publicada em 1961, ele afirma: “A responsabilidade pelo outro é o que me torna verdadeiramente humano”.
Para Levinas, o encontro com o outro — especialmente com aquele que sofre — nos convoca a uma responsabilidade ética que antecede qualquer norma ou interesse pessoal. Essa visão reforça a importância da escuta, da presença e do cuidado nas relações em saúde, pois ser humano, nesse sentido, é reconhecer a responsabilidade pelo bem-estar do outro, principalmente quando ele está em situação de vulnerabilidade.
Por isso, o reconhecimento das tecnologias sociais que valorizam o humano como princípio do Sistema Único de Saúde representa um avanço histórico. Trata-se de uma ampliação do grau de contato e da qualidade da comunicação entre pessoas e grupos, promovendo a superação do isolamento e das relações de poder hierarquizadas. Além disso, abre caminhos para avanços que realmente importam para a saúde integral do cidadão.