Minas Gerais carrega em seu próprio nome a herança da mineração. A atividade foi, e ainda é, um motor econômico do Estado. No entanto, o que também se acumula em nosso território é um passivo ambiental silencioso, invisível para grande parte da população, mas de impacto profundo e duradouro: as minas abandonadas.

Um estudo recente do Instituto Escolhas, divulgado em abril deste ano, revelou que o Brasil possui 3.943 minas desativadas e sem qualquer tipo de recuperação ambiental ou social. Minas Gerais lidera esse triste ranking, com 22% do total de áreas abandonadas, o equivalente a mais de 860 minas espalhadas por todo o Estado.

Esses espaços, que um dia representaram progresso econômico, hoje são fonte de contaminação de solo e recursos hídricos, além de riscos geotécnicos, como deslizamentos e erosões. Sem qualquer monitoramento ou plano de reabilitação, essas áreas continuam emitindo poluentes – muitas vezes metais pesados –, que atingem diretamente comunidades, lavouras e nascentes. Trata-se de um problema que extrapola o campo ambiental e alcança a esfera da saúde pública.

A verdade é que estamos convivendo com um legado tóxico. O encerramento de uma mina deveria vir acompanhado de um plano de fechamento responsável, com ações de recuperação ambiental previstas e financiadas desde o início da operação. No entanto, o que se vê é o abandono das estruturas e o silêncio das empresas, enquanto o ônus da degradação recai sobre o poder público e, principalmente, sobre a população local.

Há, sim, caminhos possíveis. A tecnologia e o conhecimento técnico para reverter parte desses danos estão disponíveis. Experiências internacionais demonstram que áreas mineradas podem ser recuperadas e até reutilizadas com segurança – desde que haja vontade política, fiscalização efetiva e responsabilização das empresas envolvidas.

O estudo do Instituto Escolhas propõe medidas estruturantes, como a criação de um fundo nacional para recuperação de áreas degradadas, a atualização do Cadastro Nacional de Barragens e a exigência de garantias financeiras por parte das mineradoras. São propostas viáveis, mas que exigem comprometimento das esferas pública e privada.

Neste Junho Verde, mês de reflexão e ação em prol do meio ambiente, é urgente que a sociedade e os gestores olhem com mais atenção para esse problema. As barragens que se romperam em Brumadinho e Mariana, causando destruição, são os casos mais visíveis, mas há centenas de outras áreas degradadas e esquecidas que também representam riscos sérios.

O combate às minas abandonadas deve ser parte central da pauta ambiental brasileira. É hora de transformar esse passivo em ação, para que Minas e o Brasil deixem de carregar esse legado de destruição e possam, de fato, caminhar rumo a um modelo de desenvolvimento mais justo e sustentável.