Clarice de Abreu é arquiteta e urbanista
Desde a Grécia Antiga, quando surgiram os Jogos Olímpicos em 776 a.C., a beleza era compreendida de forma ampla: não se limitava à estética dos corpos, proporções ou harmonia. Ela também se expressava na disciplina, na ética, na persistência e na força interior. Os atletas simbolizavam essa beleza profunda, que unia aparência, caráter e honra. Beleza, naquele tempo — e ainda hoje — também significava integridade: a coerência entre o que se vê e o que se sustenta nos bastidores.
Essa reflexão atravessa os séculos e se conecta diretamente com um debate atual no universo da arquitetura corporativa: o que faz um espaço ser verdadeiramente belo? Será apenas o design arrojado, as linhas elegantes e os materiais sofisticados? Ou será também — e principalmente — aquilo que não se vê, mas se sente?
Belo Horizonte, cidade que respira arquitetura autoral, criativa e plural, vive um momento de transformação. A retomada dos espaços de trabalho impulsionou uma revisão do papel dos escritórios. Eles deixaram de ser ambientes apenas funcionais para se tornarem espaços de cultura, conexão, bem-estar e troca entre as pessoas.
Neuroarquitetura
Nesse cenário, destaca-se um conceito essencial: a neuroarquitetura. Ela parte do princípio de que os ambientes impactam diretamente o funcionamento do cérebro humano, influenciando emoções e comportamentos. Um escritório, portanto, não é apenas um local físico — é um organismo vivo que interfere na produtividade, na criatividade, na saúde mental e na qualidade de vida.
Assim como a beleza, na Grécia Antiga, transcendia o físico, os projetos corporativos contemporâneos também precisam ir além da estética aparente. A verdadeira beleza está nas escolhas conscientes, na ética, na responsabilidade social e ambiental e, acima de tudo, no cuidado com as pessoas.
Saúde e qualidade do trabalho
Entre os fatores invisíveis que fazem toda a diferença em um escritório está a preocupação genuína com a saúde mental dos colaboradores, refletida em soluções de iluminação adequada, conforto térmico e acústico, presença de elementos naturais (biofilia) e mobiliário ergonômico. Tudo isso contribui diretamente para o bem-estar e, consequentemente, para a produtividade e a qualidade do trabalho.
Outro aspecto importante é a criação de espaços que promovem pertencimento, diversidade e inclusão. Escritórios devem ser ambientes acolhedores, onde todos se sintam representados e respeitados. Essa preocupação se estende também à cadeia produtiva: pensar na responsabilidade social do projeto significa olhar para quem fabrica, quem executa e quem compõe cada etapa do processo. Quando colaboradores, fornecedores e clientes se sentem envolvidos de forma ética, surge um senso real de propósito e conexão.
Insumos sustentáveis
A procedência dos materiais utilizados também revela muito sobre essa beleza invisível. Optar por insumos sustentáveis, com impacto ambiental reduzido e produção consciente, reforça o compromisso com um futuro mais equilibrado. E, por fim, há a importância de criar ambientes que estimulem não apenas o desempenho, mas também a criatividade, o equilíbrio emocional e a colaboração genuína.
Em Belo Horizonte, essas transformações já são realidade. Projetos arquitetônicos contemporâneos incorporam tendências como a aplicação da neuroarquitetura — com soluções que reduzem o estresse, aumentam o foco e promovem o bem-estar a partir da química cerebral. A biofilia é cada vez mais presente, trazendo a natureza para dentro dos espaços, com materiais naturais, ventilação cruzada, luz natural e texturas orgânicas. Os escritórios também se tornam híbridos e multifuncionais, adaptáveis a diferentes momentos do trabalho, desde reuniões até momentos de introspecção ou descontração.
Valorização da cultura local
A estética se torna um reflexo do propósito. Cada detalhe, desde o piso até o mobiliário, carrega a intenção de promover um ambiente mais humano e significativo. Há ainda uma valorização crescente da cultura material local: fornecedores e profissionais de BH ganham protagonismo, fortalecendo a economia da cidade e reduzindo impactos ambientais com escolhas conscientes.
A verdadeira beleza, portanto, é coerência. O escritório corporativo do presente — e do futuro — é aquele que expressa a beleza que os olhos veem nas linhas, nas cores, nas formas, mas também a beleza que o coração reconhece: a da integridade, da responsabilidade, do cuidado e da ética.
Assim como nas Olimpíadas da Grécia, em que a beleza estava no equilíbrio entre corpo, mente e espírito, a arquitetura corporativa em Belo Horizonte caminha na mesma direção. Um espaço não é belo apenas pelo que aparenta ser, mas por aquilo que representa, constrói e transforma na vida das pessoas e no mundo.
Projetar escritórios, hoje, é mais do que desenhar ambientes: é desenhar experiências, relações e futuros mais sustentáveis, humanos e belos.