Imagine que você ainda esteja usando um mapa antigo para se orientar em uma grande cidade moderna e em constante mudança. É mais ou menos isso que acontece quando governos e a sociedade usam o Produto Interno Bruto (PIB) para medir o progresso de um país. Em seu livro recente “The Measures of Progress: Counting What Really Matters” (“As Medidas do Progresso: Contando o que Realmente Importa”), de 2025, Diane Coyle nos convida a repensar essa bússola.

Coyle observa que o PIB foi criado para ser um indicador-síntese do fluxo de bens e serviços. Embora reconheça seu valor histórico e sua eficácia em mensurar a produção, a autora aponta suas limitações como medida eficaz de sucesso econômico. Coyle argumenta que o PIB se tornou inadequado para a complexidade da economia contemporânea. Em grande parte, invenção da Segunda Guerra Mundial, o PIB foi concebido para quantificar a produção e indicar o nível e a evolução da economia, mas não para medir o bem-estar social. Apesar das esperanças de Simon Kuznets, seu criador, de que se tornasse uma medida de bem-estar, o PIB se consolidou como uma medida-síntese de produção. Outras medidas posteriores, incluindo dimensões sociais, como o IDH, concebido por Amartya Sen, também têm suas limitações para avaliar o nível de bem-estar.

Na visão de Coyle, as principais limitações atuais do PIB são ignorar o meio ambiente (embora a poluição seja contada como ganho) e não captar o valor da economia digital, com seus serviços gratuitos e inovações. Além disso, não reflete o bem-estar real, como o trabalho não pago ou a desigualdade social. Há um paradoxo: temos muita inovação, mas o padrão de vida nem sempre melhora para todos. Quem ganha com a inovação?

A autora propõe um “painel de indicadores” para complementar o PIB, com o que realmente importa para o futuro e o bem-estar, incluindo capital natural (meio ambiente e recursos); capital humano (educação e saúde das pessoas); capital social (confiança e as redes de relacionamento na sociedade, vitais para empresas e comunidades); e capital intangível (conhecimento, inovação e informação).

Essa nova forma de medir é crucial para a formulação de políticas públicas que levem a um crescimento mais justo e sustentável para todos. Em suma, “The Measure of Progress” é um convite à reflexão sobre como definimos e medimos o progresso. Ao ampliar nossa visão além do PIB, podemos construir sociedades que valorizem não apenas o crescimento econômico, mas também o bem-estar, a equidade e a sustentabilidade.

Conquanto a obra de Coyle é vista como um chamamento à ação para repensar como medir o progresso, minha principal ressalva reside na ausência de um plano mais concreto sobre a exequibilidade de suas propostas. Imagine que o Waze, fruto da revolução digital, já esteja disponível, mas ainda não sabemos como utilizá-lo para substituir o velho mapa analógico.