Saulo Penaforte é jornalista

Enquanto diversas capitais brasileiras executam planos urbanos de longo prazo – como São Paulo ou Recife –, Belo Horizonte engatinha em seus próprios documentos estratégicos. O Plano BH 2030, lançado em 2012, e o Programa Horizonte 2030, que alinha o município aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODSs), são exemplos reais desse esforço. Mas há um problema central: ninguém parece saber disso.

Os planos existem, mas não dialogam com o cotidiano da cidade. São iniciativas técnicas, importantes, mas pouco integradas, pouco divulgadas e ainda desconectadas. O que falta a BH não é um plano no papel – falta um projeto de cidade que envolva a população, que mobilize a sociedade, que oriente políticas públicas concretas.

Não temos hoje uma resposta clara para perguntas fundamentais: Que cidade queremos ser? Qual é a vocação de Belo Horizonte no contexto nacional? Como queremos ocupar o território? Qual será o lugar da juventude, da cultura, da periferia e do meio ambiente nesse processo? Sem essa visão de futuro, BH corre o risco de se tornar uma cidade de pequenas correções – sem grandes ambições.

O Plano Diretor de 2019 propõe diretrizes estruturais claras para o desenvolvimento urbano, com instrumentos que incluem zoneamento, política de uso do solo, mobilidade, meio ambiente e função social da propriedade. Porém, assim como os demais instrumentos, carece de ajustes, integração e clareza para a população. A cidade avança no improviso, empilhando intenções sem um norte mobilizador.

Enquanto isso, outras cidades estabelecem estratégias reconhecidas e mobilizadoras. São Paulo possui o Plano Diretor Estratégico, que orienta o desenvolvimento urbano sustentável, com foco em mobilidade, habitação e meio ambiente.

Já Recife lançou o programa Recife 500 Anos, que propõe uma estratégia integrada para o desenvolvimento até 2037, envolvendo a população em todo o processo. No cenário externo, Medellín se reposicionou globalmente com uma transformação urbana focada em educação, mobilidade e inclusão social, com iniciativas como o Sistema Integrado de Transporte do Vale do Aburrá e projetos de desenvolvimento urbano sustentável.

Belo Horizonte tem talentos, instituições, quadros técnicos e força criativa para fazer o mesmo – e mais. Mas falta um pacto. Um plano que não seja apenas institucional, mas simbólico.

Projetar o futuro não é adivinhar tendências. É decidir o que não se aceita mais e o que se quer proteger, ampliar e transformar. O futuro de uma cidade começa quando ela deixa de olhar para trás com saudade – e começa a olhar para a frente com estratégia. 
Ainda dá tempo.