Nesta terça-feira (3.12), bem antes de me sentar à mesa do computador para tentar escrever algo que possa levantar o nosso ânimo, leitor, bastante abatido pelas crises nas quais vive o país, um telefonema de um velho amigo me acordou cedo. Desanimado com tudo, queria só me dizer que, infelizmente, perdeu a esperança em seu futuro. “O tempo corre – disse-me ele – e nada de bom acontece por estas bandas. Os políticos só pensam no eleitor nas antevésperas das eleições e não se preocupam com o próximo. No exercício do mandato, só pensam neles”.
E continuou: “Acordo com a vergonhosa trama golpista, almoço com o ajuste fiscal e/ou corte de gastos, e, quando à noite me recolho, lembro-me da liberação das emendas parlamentares. E se pela manhã cruzo com um amigo na rua, os mesmos assuntos voltam à tona”. E completou: “Você viu o que disse o advogado do ex-presidente Jair Bolsonaro, Paulo Amador da Cunha Bueno? Terá conversado com o seu cliente antes das entrevistas que concedeu semana passada aos veículos de comunicação social? Se conversou, e se teve o seu aval, a situação de Bolsonaro se agravou ainda mais.
À GloboNews, Cunha Bueno afirmou que o plano golpista relatado pela Polícia Federal não beneficiaria o seu cliente. Beneficiaria os generais Braga Netto e Augusto Heleno, que fariam parte do comando do ‘gabinete de crise’ que seria criado. Logo eles, que eram os seus principais assessores”!
Na verdade, disse-lhe eu, ao se atribuir a militares a trama golpista–- e foi o que fez o advogado do ex-presidente –, insinua-se que ele teria sido traído por gente do seu governo, da sua base eleitoral. Com isso, Cunha Bueno concluiu, e com a concordância, quem sabe, do seu cliente, ser este o caminho que o levaria a eximir-se de qualquer responsabilidade pela trama que, afinal, o levou a ser indiciado pela PF.
Matéria publicada no jornal “O Globo”, na semana passada, arrolou o que a PF aponta contra Bolsonaro: 1) campanha sistemática contra as urnas eletrônicas; 2) cobrança de ministros para a difusão de fake news; 3) aval à ação sem provas contra o resultado eleitoral; 4) elaboração da minuta do decreto golpista; 5) pressão sobre os chefes das Forças Armadas para adesão; 6) aval a cartas de pressão sobre comandantes; 7) ciência de plano para matar Lula, Alckmin e Moraes; 8) reunião com o chefe de Operações Terrestres; 9) discurso pedindo apoio para pressionar as Forças. Estão fora dessa relação o indiciamento por fraude no cartão de vacinação e a venda de joias.
Além da morte de Lula, Alckmin e Moraes, segundo a PF, a trama golpista (ou a tentativa de golpe de Estado) ainda previa a prisão de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), como parte de uma estratégia para “restabelecer a legalidade e a estabilidade institucional” da nossa Corte, cuja ruptura se devia a alguns ministros.
Meu amigo tem razão: o Brasil endoidou de vez!