Só a educação básica igual para todos (e, por consequência, a saúde), que exige grandes investimentos, tem poder para dar ao país um futuro melhor. Quando falo em futuro, penso em um século, tempo civilizatório necessário para se mudar o destino de uma nação. Hoje, porém, com as novas e aceleradas tecnologias, já se aceita tempo menor, em torno de meio século. Ou talvez menos, quem sabe, se soubermos escolher, sempre, ministros da educação à altura das suas reais atribuições.
Ao dizer isso, não desprezo, leitor, a economia (quem sou eu, ministro Paulo Guedes?), mas só ela, sem os olhos voltados para a crescente desigualdade na qual vive o país há séculos, não dará conta. Afinal, “uma andorinha só não faz verão”, diz o ditado popular.
Pois bem. Ao refletir sobre o que poderia lhe dizer hoje, leitor, dei de frente com esta repetida manchete: “Serviço de saúde encolhe no país com crise fiscal”. Segundo levantamento feito pelo jornal “O Globo”, baseado em dados federais, “a falta de recursos fez com que 11 Estados reduzissem o serviço de saúde em 2019, fechando, entre outros, 17 hospitais e 30 unidades básicas de atendimento”. A cidade do Rio de Janeiro está atrás de Manaus e Natal. Se esses 11 estão no caos, como nos diz o levantamento, os outros se aproximam depressa dele.
Refletia sobre esses e outros assuntos quando ouvi, numa emissora de rádio, a notícia sobre a internação, no hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, do apresentador do SBT Carlos Alberto da Nóbrega, 83, que é, além de advogado, produtor, diretor e roteirista. Num primeiro momento, ele associara o problema a uma infecção intestinal provocada por um iogurte com prazo de validade vencido. Como disse ele nas redes sociais, o que lhe ocorreu “é assunto muito sério”, cuja precaução só depende do consumidor, que deve estar sempre atento à data de validade dos alimentos que costuma ingerir (no hospital foi descoberta uma prostatite bacteremia, e, ontem, o apresentador disse que teria ocorrido uma coincidência do fato com a ingestão do iogurte vencido).
Aqui a questão da educação se encontra com a da saúde. Claro que é minoria, mas, na realidade, não há preocupação, em muitos dos nossos sacolões, supermercados ou mercearias (nos grandes, mas, sobretudo, nos pequenos ou médios), com a saúde do consumidor. E não há preocupação porque, antes dela, falta educação aos maus comerciantes. Quem costuma frequentá-los, sabe muito bem do que estou dizendo. Os alimentos com data de vencimento mais distante (e essa data quase não aparece) ficam “meio escondidos” no fundo das prateleiras, a fim de que sejam consumidos os que ou já estão vencidos ou se vencerão em poucos dias. Essa estressante tarefa de verificar produto por produto é um suplício para o consumidor atento.
Educação e ética são, também, inseparáveis. Sem a primeira, jamais haverá a segunda. A Lava Jato não descobriu a roda. Antes dela, o jeitinho brasileiro já existia…