A Nigéria, maior país da África em população, vive uma crise humanitária marcada por perseguições sistemáticas contra cristãos. Organizações internacionais e líderes religiosos denunciam um cenário que já cumpre os critérios de genocídio, segundo a Convenção da ONU.
De acordo com o Observatório da Liberdade Religiosa na África (Orfa), de 2019 a 2023, foram registradas 55.910 mortes e 21.621 sequestros em 11.610 ataques. Dos civis mortos, 16.769 eram cristãos, o que representa uma chance 6,5 vezes maior de eles serem vítimas em relação a muçulmanos.
A Fundação Ajuda à Igreja que Sofre (AIS) aponta que a proporção de civis mortos é de 7,6 cristãos para cada muçulmano, evidenciando o viés religioso da violência.
Segundo a organização Missão Portas Abertas, a Nigéria foi responsável por 82% das mortes de cristãos em todo o mundo em 2023, com 4.118 deles assassinados de outubro de 2022 a setembro de 2023. Em 2025, os números continuam a subir: 7.087 cristãos foram mortos, e 7.800 sequestrados entre janeiro e agosto, conforme a Sociedade Internacional para as Liberdades Civis e o Estado de Direito (Intersociety).
O bispo dom William Avenya, da Diocese de Gboko, afirmou que a violência “cumpre os critérios para ser definida como um genocídio calculado segundo a Convenção sobre Genocídio”.
O bispo Matthew Hassan Kukah descreveu o norte da Nigéria como “um grande cemitério, um vale de ossos secos, a parte mais sórdida e bruta da Nigéria”.
O professor Ango Abdullahi declarou: “O governo atual falhou em proteger seus cidadãos contra os ataques incessantes de bandidos e grupos terroristas”.
A Fundação AIS denuncia que “o governo federal recusa-se sistematicamente a empregar o termo ‘terrorista’ para reconhecer a natureza terrível dos atos, apesar dos repetidos apelos de organizações da sociedade civil, acadêmicos e líderes religiosos”.
A deputada federal Greyce Elias (Avante-MG) enfatiza a importância de denunciar esse massacre: “É impossível permanecer em silêncio diante do genocídio contra cristãos na Nigéria. Só em 2023, mais de 5 mil irmãos foram brutalmente assassinados, e em 2025 esses números já superam 7 mil. Essa tragédia revela um padrão histórico: ao longo dos séculos, os cristãos sempre enfrentaram perseguição, mas resistiram pela fé inabalável. Como cristã e vice-presidente da Frente Parlamentar Evangélica do Congresso Nacional, reafirmo meu compromisso em denunciar essa violência e conclamar a comunidade internacional a agir imediatamente. A liberdade religiosa é um direito humano fundamental, que deve ser respeitado em qualquer nação. O mundo não pode se calar enquanto famílias são destruídas apenas por professarem sua fé em Cristo, e defendo que o Brasil, como nação majoritariamente cristã, deve liderar sua posição na ONU”.
O deputado federal Eros Biondini (PL-MG), que já foi presidente da Frente Parlamentar Católica do Congresso, destaca que, como missionário católico, não pode se calar diante do massacre: “O sangue dos mártires clama por justiça e o mundo precisa reconhecer esse genocídio silencioso. Rezemos e atuemos para que cesse tamanha violência”.
A violência é atribuída a milícias fulânis, ao Boko Haram e ao Estado Islâmico na África Ocidental. Segundo o Orfa, esses grupos operam com liberdade em várias regiões, enquanto o governo nigeriano minimiza o caráter religioso dos ataques, atribuindo-os a conflitos étnicos e agrários.
Mais de 19 mil igrejas foram destruídas, 1.100 comunidades cristãs saqueadas, e 600 líderes religiosos sequestrados desde 2009. Crianças são obrigadas a dormir em árvores para escapar de ataques noturnos.
A Anistia Internacional também destaca a destruição de escolas e plantações, afetando diretamente a segurança alimentar e o acesso à educação.
Organizações como Portas Abertas e Intersociety pedem que a Nigéria seja incluída na lista de “Países de Preocupação Particular” pelos EUA. A comunidade internacional é instada a reconhecer o padrão sistemático de perseguição religiosa e agir para proteger os direitos humanos fundamentais.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) recebeu, na segunda-feira (25/8), o presidente da Nigéria, Bola Tinubu, em uma visita de Estado para aprofundar as relações bilaterais entre os países. Será que Lula questionou o nigeriano sobre o genocídio de cristãos no seu país?