No fim do mês de março, a Câmara aprovou a concessão do auxílio de R$ 600 para os informais, MEIs e desempregados na população de baixa renda. Confesso que respirei aliviado. A situação dos mais vulneráveis preocupa-me sobremaneira. Para esse grupo, nossa atenção não se restringe apenas a proteção da Covid-19, mas inclui a garantia da dignidade do sustento próprio e de suas famílias.
Para dimensionar a seriedade da questão, o Datafolha divulgou na semana passada um dado estarrecedor: 86% das pessoas que moram em aglomerados ficarão sem comida após um mês de paralisação.
Equacionar a preservação de empregos e impedir a propagação desenfreada do coronavírus é tarefa árdua e, até o momento, sem um denominador comum tão evidente. Por essa razão, é preciso cautela e muita prudência.
Entretanto, a reflexão dever ir além. Há um Brasil antes e após a passagem do coronavírus. As medidas paliativas servirão apenas de curativo. O machucado maior permanecerá aberto, escancarando uma das maiores dificuldades do Brasil: a geração de riqueza.
O valor de R$ 600 custará aos cofres públicos quase R$ 100 bilhões – o que é certamente nada se comparado ao valor de uma vida. O governo estima que aproximadamente 70 milhões de pessoas façam uso do benefício. São os cidadãos que possivelmente não possuem qualquer tipo de reserva para emergências, e na normalidade diária, não conseguem arcar com a totalidade de suas despesas.
É muito frustrante para qualquer brasileiro ter ciência do potencial enorme que este país tem e perceber que em algum momento esse potencial se esvai, deixando os filhos desta pátria, mãe gentil, à míngua.
Acredito piamente na singularidade e importância de cada indivíduo e em sua contribuição direta na geração de riqueza do país. E em um momento de crise depender exclusivamente do auxílio estatal não é uma situação confortável, afinal são pessoas que trabalham duro todos os dias para prover o sustento de suas famílias. Certamente, R$ 600 serão insuficientes para prover as necessidades básicas de uma casa.
O coronavírus evidencia, portanto, que estamos chafurdados em burocracias inúteis; em tributações excessivas; em educação de qualidade pífia e que quando são somados, resultam em salários pequenos e baixa qualificação profissional.
Estamos falando de milhões de homens e mulheres inteligentes, que trabalham arduamente, mas que não gozam da grandeza do país em que nasceram, porque nosso modus operandi prioriza procedimentos e regras obsoletas em vez de geração de riqueza.
Se no Brasil houvesse verdadeira valoração dos frutos do trabalho de cada indivíduo, e se soubéssemos investir sustentavelmente nas riquezas naturais, teríamos um povo independente e que em momentos de calamidade não permaneceria sob a dependência total de um Estado altamente fragilizado.