A água precisa seguir seu curso, mas nas grandes metrópoles isso tem sido um desafio. O clima parece estar cobrando o preço da falta de cuidado que a humanidade pratica há muitas décadas. E a água, pela falta de planejamento e pela baixa interação com o ambiente urbano, vem causando estragos e transtornos. Minas Gerais, Espírito Santo, Rio de Janeiro e São Paulo sentiram os efeitos, contabilizando perdas e prejuízos das chuvas atípicas.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), as mudanças climáticas são uma das dez maiores ameaças a serem enfrentadas imediatamente. É preciso que cidades estejam não só preparadas, mas, principalmente, se planejem. O processo de adaptação urbana é uma necessidade reportada por relatórios internacionais, como o IPCC, há décadas.

O crescimento e adensamento das metrópoles são realidades que impactam o coeficiente de escoamento superficial. As cidades vão se desenvolvendo de forma desordenada e se tornando “impermeáveis”.

É fato, a população seguirá crescendo e o território urbano se expandindo, mas é preciso que isso ocorra de forma planejada e sustentável. Planos diretores trazem restrições de áreas, tipos de construções e outras iniciativas para abrir caminho a novos projetos urbanísticos.

Por exemplo, o masterplan da CSul, na região da lagoa dos Ingleses – desenhado pelo escritório do urbanista Jaime Lerner –, contempla uma série de inovações para promover conservação das águas e ampliação dos atributos ambientais.

Entre as práticas está a criação de corredores ecológicos interligando os principais fragmentos de vegetação, além da conservação de 64% do terreno em sua forma natural, garantindo alta permeabilidade do solo. A iniciativa garante alto índice de infiltração, evitando alagamentos e contribuindo para a retroalimentação dos reservatórios subterrâneos da região com água da chuva.

O projeto preserva integralmente fragmentos de Mata Atlântica, áreas de preservação e nascentes, contemplando um índice de área verde por habitante de 92 m² a 129 m², contra 18 m² em Belo Horizonte.

O novo Plano Diretor prevê diversas regras que, por um lado, parecem inviabilizar novas construções e geram um burburinho negativo no mercado e, por outro, impedem novas canalizações de rios e córregos. Viabilizar um projeto de planejamento urbano sustentável e de longo prazo é desafiador. Ao mesmo tempo, ampliar investimentos nos centros urbanos é fundamental, para que no futuro possamos conviver com esses efeitos climáticos e até contribuir para minimizá-los.

* Myr Projetos Sustentáveis  

** CSul Desenvolvimento Urbano