A agressão de Datena (PSDB) a Pablo Marçal (PRTB) representa a escalada da violência no debate político. A normalização de ataques físicos e verbais perverte o sentido da boa política, baseada na solução do conflito a partir do diálogo e do convencimento.

Os debates televisionados são naturalmente permeados por embates com elevado nível de tensão. Porém, se verifica o acirramento proposital dos ânimos, um fenômeno estimulado pela radicalização ideológica e pelo apelo das redes sociais. 
Parte do eleitorado inclusive espera uma performance mais acalorada dos candidatos que, no afã de atender a demanda, extrapolam o limite do senso de civilidade. Resta cada vez menos espaço para a apresentação de propostas.

A violência, porém, não se resume aos debates eleitorais televisionados. Ela se manifesta também nos ataques entre apoiadores, na depredação de símbolos que representam uma ideologia contrária e até na morte de agentes políticos.

Entre abril e junho de 2024, o Observatório da Violência Política e Eleitoral, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, contabilizou 128 casos de violência contra lideranças políticas no Brasil.

Em relação ao trimestre anterior, o aumento no número de casos foi de 117%, atribuído ao ciclo pré-eleitoral das eleições municipais de 2024, uma vez que parte significativa dos casos foram contra pré-candidatos a cargos locais.

A violência não pode ser naturalizada como estratégia de campanha. É falsa a ideia de que esse ou aquele candidato possa capitalizar politicamente em cima de um episódio de agressão, seja como autor ou vítima. Todos perdem quando o embate sai do campo das ideias.

Um pacto de civilidade é necessário para reverter esse quadro, envolvendo desde eleitores até os partidos, passando pelas instituições de Estado como a Justiça Eleitoral.

O país sofre com a degradação do tecido social, violência urbana, falta de acesso à saúde e educação. Mais violência não é a resposta.