No mesmo dia que um empresário mineiro disse “Deus me livre de mulher CEO”, foi divulgada uma pesquisa que constata o aumento da disparidade salarial entre homens e mulheres. 

Elas ainda recebem 20,7% menos do que eles nas 50.692 empresas com cem ou mais empregados. O dado é do 2° Relatório de Transparência Salarial e Critérios Remuneratórios, publicado na última quarta-feira. Outra pesquisa, da Deloitte, mostra que, no Brasil, as mulheres representam apenas 2,4% dos cargos de CEO.

O discurso e a prática não coincidiram apenas nesse dia. Ao expressar sua repulsa a mulheres em cargos de liderança, o presidente da G4 Educação, Tallis Gomes, escancara a ideia machista ainda presente na sociedade. Uma mentalidade que dificulta, desde a formação, que meninas almejem o sucesso profissional. 

O resultado dessa ideologia é a exclusão e a desvalorização da mulher no mercado. A média salarial dos homens é R$ 4.495,39, enquanto a das mulheres é R$ 3.565,48. A disparidade é ainda mais acentuada entre mulheres negras, que ganham, em média, R$ 2.745,26.

O problema toca não só àquela mulher desempregada ou desvalorizada, mas à sua família e à sociedade e consiste em um dos graves entraves para o desenvolvimento nacional.

É lamentável constatar a permanência do quadro em que as mulheres – maior parte da população (51,5%) – enfrentam enormes resistências simbólicas e práticas. A fala de Tallis Gomes representa a distância para atingirmos a igualdade de direitos entre gêneros, apesar de avanços civilizacionais visíveis recentemente.

A dissolução desse cenário depende da continuidade da ampliação das leis em defesa da igualdade e da cobrança para que essas leis sejam aplicadas. Para ficar só na igualdade salarial, ela está prevista na CLT desde 1943.

Ao lado das leis, o empenho do setor privado e de toda a sociedade é a base para mudar a mentalidade exposta de maneira tão clara pela fala do empresário mineiro.