“Que história, Walter!”. A exclamação de Fernanda Torres ao receber o prêmio de melhor atriz no Globo de Ouro na madrugada de ontem (6.1) vale tanto para a trajetória da artista e de “Ainda Estou Aqui”, filme pelo qual concorreu, quanto do próprio cinema brasileiro.

Apesar de sua longa história, iniciada em 1898 com os irmãos Segreto, esta foi somente a segunda premiação no Globo de Ouro – outro filme de Walter Salles, “Central do Brasil”, em 1999, com Fernanda Montenegro, mãe de Fernanda Torres. 
Enquanto “Central’ era uma metáfora de um Brasil continental e diverso que buscava reencontrar suas origens, “Ainda Estou Aqui” é um reencontro com a história e suas feridas. Em comum, além do diretor e dos laços familiares das atrizes, ambos carregaram a seu tempo as esperança da conquista do primeiro Oscar, um esperado reconhecimento à qualidade da cinematografia brasileira.

Uma história que passou por Minas Gerais nos anos 30, com Humberto Mauro e sua tão prolífica quanto heroica produção em Cataguases que rendeu indiscutíveis obras como “Ganga Bruta”.
A vitória de Fernanda Torres pode ser vista também como um tributo aos precursores da Atlântida, nos anos 40, a Oscarito e Grande Otelo e a Mazzaropi.

É homenagem à Vera Cruz e ao “Cangaceiro”, de Lima Barreto (1953), e ao Cinema Novo de Nelson Pereira dos Santos e Glauber Rocha. E é júbilo, tal como a Palma de Ouro em Cannes conquistada por “Pagador de Promessas”, de Anselmo Duarte, em 1962.

Como Fernanda Torres disse em seu discurso, a premiação é “prova de que a arte pode resistir à vida”, assim como resistiram aos desafio de produzir cinema no país diretores e produtores como Fábio e Bruno Barreto, Hector Babenco (argentino que se notabilizou no Brasil), Fernando Meirelles, José Padilha, Carla Camurati, Anna Muylaert, o próprio Walter Salles e tantos outros.
Por isso mesmo, a conquista do Globo de Ouro por Fernanda Torres é motivo de genuíno orgulho e festa para todos os brasileiros e para a história do cinema nacional. “E que história!”.