Um levantamento divulgado pelo Unicef, Instituto Fogo Cruzado, UFF e Centro para o Estudo da Riqueza e da Estratificação Social revela a relação entre violência e aprendizado. Alunos do ensino fundamental que vivem nesses territórios acumulam um atraso de cerca de seis meses na aprendizagem em comparação com estudantes de regiões não conflagradas.
O desempenho, especialmente em disciplinas básicas, como língua portuguesa e matemática, está diretamente ligado ao contexto de violência armada, ausência do Estado e vulnerabilidade social.
A educação pública brasileira, historicamente marcada por desigualdades, encontra na violência urbana um obstáculo ainda mais perverso. O impacto vai além do rendimento escolar, afetando também a permanência dos estudantes. Em regiões conflagradas, o abandono escolar na terceira série do ensino médio alcança índices superiores a 12%, como no caso do Rio de Janeiro, um número que escancara o fracasso do poder público em assegurar um direito fundamental: o de estudar com segurança e dignidade.
Nesse contexto, volta à pauta em Minas, nos próximos dias, o projeto de expansão das escolas cívico-militares, como informou, ontem, o novo secretário de Estado de Educação de Minas Gerais, Rossieli Soares.
A proposta divide opiniões, mas ganha força sob a justificativa de melhorar o ambiente escolar e reduzir a evasão, sobretudo em comunidades vulneráveis.
No entanto, é preciso cautela. A militarização das escolas não pode ser tratada como solução mágica para um problema estrutural. Segurança escolar é, antes de tudo, uma atribuição do Estado em suas múltiplas frentes.
O que o estudo revela é que a aprendizagem sofre quando o medo ocupa o lugar da confiança, afastando os alunos da sala de aula. O governo de Minas deve considerar os dados com seriedade e investir em soluções integradas. O desafio é garantir que escolas sejam territórios de paz, e não trincheiras em zonas de guerra.