Se o Brasil foi ignorado no discurso de posse do presidente Donald Trump, pior foi entrar de forma indigesta no primeiro pronunciamento diante do Congresso dos Estados Unidos. Ser citado nominalmente entre os alvos do novo plano de reciprocidade tarifária significa um aumento de custos das exportações brasileiras e o risco de perda de participação num dos maiores mercados consumidores do planeta.
Desde fevereiro, Washington adotou uma política agressiva no comércio internacional. Primeiro, o anúncio de taxas de 10% sobre produtos chineses; depois, tarifas de até 25% contra Canadá e México; em seguida, tributação sobre aço e alumínio a partir de 12 de março. E, agora, o plano de reciprocidade.
Trump argumenta que por décadas os EUA têm sido injustiçado nas relações com os outros países. De acordo com a Organização Mundial do Comércio, Washington aplica em média 3,3% de taxas sobre importados, contra 7,4% da China, 11,2% do Brasil e 17% da Índia, por exemplo. O que ele defende é, a partir de 2 de abril, aplicar taxas iguais às que sofre.
Mas, como a Câmara Americana de Comércio destacou, é preciso observar esses dados no contexto da balança comercial. Nos últimos dez anos, o Brasil importou US$ 263 bilhões a mais em produtos e bens do que exportou para os norte-americanos. E, levando em conta a pauta de exportações, a média ponderada das tarifas é bem mais baixa do que a média apontada pela OMC: 2,7%.
É um bom argumento para ser levado à mesa, mas o Brasil precisa ser rápido e consciente para negociar. Uma guerra comercial global, apesar de poder abrir novos mercados e receitas para o Brasil (os EUA são o segundo maior exportador de frango para a China), também significa menor oferta desses produtos no mercado interno. Com isso, sobem preços, inflação e juros num país que tem urgência para crescer.
O discurso de Trump sugou o Brasil para uma guerra comercial que promete não ser boa para ninguém. E que será especialmente dura para o governo Lula, no qual inflação e juros são a chave para a sobrevivência.