O Brasil voltou ao ranking de 20 países com mais crianças não vacinadas, ocupando a 17ª colocação. O levantamento da Unicef considera a primeira dose da vacina tríplice bacteriana (DTP).

Apesar de uma mudança metodológica ter contribuído para a entrada do Brasil na lista, fatores como a desinformação e a falha na busca ativa são obstáculos à cobertura vacinal infantil.
Esse dado alarmante representa mais do que um revés estatístico. É o reflexo de um enfraquecimento no compromisso coletivo com a imunização, especialmente no que diz respeito às populações mais vulneráveis, como as crianças.

Em Belo Horizonte, por exemplo, o número baixíssimo de 20% das crianças receberam a 2ª dose da vacina contra dengue, muito aquém da meta de 90% do público alvo.

O abandono do esquema vacinal se agrava em regiões como Norte e Centro-Oeste. A logística deficiente dos postos de saúde, com horários restritos e dificuldade de acesso, somada à sobrecarga das mães que não podem se ausentar do trabalho, contribui decisivamente para a evasão. Segundo o Anuário VacinaBR 2025, a taxa de desistência entre a primeira e a segunda dose da vacina tríplice viral chega a ultrapassar 50% em 14 estados.

Não se trata apenas de um desafio logístico, mas há uma crise de confiança e informação. Pelo menos 1 a cada 5 brasileiros afirma já ter sentido medo de se vacinar ou desistiu de tomar a vacina após ler uma notícia negativa em plataformas digitais, segundo estudo do Conselho Nacional do Ministério Público. A onda de desinformação se intensificou na pandemia de Covid-19, é um obstáculo que deve ser debelado de maneira permanente.

É preciso reagir com urgência. O resgate da confiança nas vacinas exige campanhas de comunicação consistentes, políticas públicas focadas em educação sanitária e, sobretudo, ações práticas como ampliação dos horários dos postos, busca ativa e incentivo à vacinação nas escolas.