A cifra de R$ 1 bilhão gastos anualmente pela Câmara dos Deputados com salários, gratificações e auxílios de funcionários é mais do que um número exorbitante. Em um país onde com 20% da população vive abaixo da linha da pobreza, o desperdício de recursos públicos em um sistema mal fiscalizado e pouco transparente expõe uma desconexão gritante entre a elite política e a realidade da nação.

Sob a gestão do presidente Hugo Motta (Republicanos-PB), o orçamento da Câmara atingiu um recorde alarmante. Casa deputado dispõe de R$ 133 mil mensais para contratar até 25 secretários parlamentares, com salários que variam de R$ 1.584 a R$ 18.719, além de benefícios como auxílio-alimentação de R$ 1.393. Enquanto isso, o salário mínimo, base de sobrevivência para milhões, é de R$ 1.412. Para o trabalhador comum, é inconcebível que funcionários do Legislativo, cuja jornada de 40 horas semanais não é devidamente controlada, recebam tais valores.

O sistema de controle de presença é frágil. Cada gabinete registra a frequência de seus contratados. Não há fiscalização rigorosa, nem transparência sobre as funções desempenhadas.

Esse cenário reforça a percepção de que o dinheiro público, tão escasso para saúde, educação e moradia, é tratado com descaso. Comparar o R$ 1 bilhão da Câmara com a renda da maioria pobre é exercício de indignação. Esse montante poderia financiar, por exemplo, 1,5 milhão de bolsas do Bolsa Família, beneficiando diretamente famílias em vulnerabilidade.

A Câmara precisa adotar sistemas de fiscalização efetivos, com auditorias independentes e detalhadas das funções dos contratados.

A indignação popular precisa se traduzir em ações concretas, como abaixo-assinados e manifestações, para que o Parlamento pare de tratar o dinheiro do contribuinte como um cheque em branco. Somente com transparência e responsabilidade será possível restaurar a confiança na política brasileira.