A paralisação das obras viárias no Belvedere simboliza o desafio do crescimento sustentável enfrentado por Belo Horizonte. O alargamento do viaduto sobre a BR-356 foi suspenso após pedido da comunidade local, que é contra o corte de 200 árvores previsto no projeto.

O Belvedere cresceu aceleradamente a partir da década de 1980 e hoje é um dos bairros mais ricos da capital. As mesmas árvores que hoje estão ameaçadas pelas obras viárias foram plantadas como forma de criar uma espécie de refúgio verde na região da Lagoa Seca.

Ao tornar-se um polo residencial e comercial de luxo, a região atraiu pessoas em busca de moradia, empregos e serviços como lazer e educação. O bairro também dá acesso à região de Nova Lima, cidade em constante crescimento e que abriga condomínios, hospitais e pontos turísticos.

Esse desenvolvimento trouxe efeitos colaterais. A pesquisa de mestrado da geógrafa Lilian Machado, publicado em 2006 na UFMG, já apontava que a criação do Belvedere III – última fase do bairro – teria elevado a temperatura média da capital em 1°C e reduzido em 10% a umidade relativa do ar na cidade.

Neste contexto, a preocupação da comunidade local com a manutenção da área verde se justifica. A arborização urbana vai além da estética. É essencial para elevar a qualidade do ar, reter a água da chuva, capturar o carbono atmosférico e evitar a formação de ilhas de calor.

Ao mesmo tempo, o interesse de toda a capital deve ser levado em conta. A mobilidade é um dos grandes problemas enfrentados pelos belo-horizontinos. A região do Belvedere trava diariamente, principalmente nos horários de pico. As obras viárias previstas podem reduzir em até 50% o tempo gasto por quem passa pela região.

É possível chegar a um denominador comum que garanta a preservação ambiental – por meio de medidas compensatórias – e consiga melhorar a mobilidade na região. Afinal, tanto o trânsito quanto o clima, em último caso, impactam a saúde da população.