A superlotação nos hospitais públicos de Belo Horizonte atingiu um patamar alarmante. O caso do hospital João XXIII, que opera com um plano de contingência permanente para lidar com a alta demanda de urgências, ilustra a gravidade da situação. A unidade tem operado no nível 3, quando chega-se a 90 pacientes simultâneos no pronto-socorro.
Diferente da prefeitura, que em janeiro suspendeu temporariamente cirurgias ortopédicas eletivas, o João XXIII mantém seus serviços ativos, mesmo em cenários críticos. A prática revela a capacidade de adaptação da unidade que é referência no país, mas também evidencia o limite da estrutura hospitalar da capital.
Segundo o diretor da Fhemig Fabrício Giarola, o hospital convive com variações constantes na taxa de ocupação e mantém diálogo com outras unidades do SUS. Ainda assim, a superlotação se repete nos hospitais Risoleta Neves e Odilon Behrens, configurando um cenário crônico. A gestão da rotina de crises não pode ser naturalizada.
Cabe ao governo do Estado assumir maior protagonismo na articulação do sistema de saúde. A expansão da rede hospitalar, o fortalecimento da atenção básica – porta de entrada que pode aliviar os prontos-socorros – e o investimento em regulação eficiente de leitos são medidas urgentes.
Além disso, é necessário ampliar o quadro de profissionais da saúde e garantir melhores condições de trabalho para enfrentar picos de demanda com dignidade e segurança.
A valorização dos servidores assume um papel central na saída da atual crise no sistema de saúde. Os funcionários têm reclamado da precariedade enfrentada por eles e pelos usuários e denunciado, por exemplo, o cancelamento de cirurgias eletivas, como noticiado por O TEMPO no dia 22 deste mês.
A saúde pública não pode depender de improvisos. O compromisso do Estado deve ir além do suporte pontual e se traduzir em políticas estruturais.