A greve dos servidores municipais da educação de Belo Horizonte completa 23 dias hoje sem sinal de acordo entre o sindicato da categoria e a prefeitura. A tensão entre as partes escalou com a decisão da PBH de judicializar a greve. Embora o caminho jurídico seja legítimo, ele está longe de ser o mais eficaz para resolver um impasse que, na essência, exige negociação, escuta ativa e responsabilidade mútua com a educação básica.

O centro da disputa é um reajuste salarial. Os profissionais da educação reivindicam 6,27%, índice correspondente ao reajuste do Piso Nacional do Magistério para 2025. A Prefeitura, por sua vez, propõe 2,49%, retroativos aos quatro primeiros meses do ano. A promessa é de um novo reajuste, com pagamento da diferença, a partir de maio do próximo ano. O problema é que o magistério municipal vê essa proposta como insuficiente para garantir a valorização da carreira e a manutenção do poder de compra da categoria, que acumula defasagens.

Judicializar a questão pode ter efeito imediato, como forçar a volta às salas de aula, mas não resolve a tensão que se acumulou ao longo dos anos. A via judicial costuma ser lenta, desgastante e sobretudo pouco sensível às especificidades da realidade educacional. Uma eventual decisão favorável à prefeitura poderia silenciar momentaneamente o movimento, mas dificilmente restabeleceria a confiança da categoria no diálogo institucional.

O caminho mais responsável e maduro seria a retomada urgente das mesas de negociação, com abertura para revisão de propostas e construção de consensos. A greve não é causa, mas sintoma de um problema maior: a falta de sintonia entre as expectativas dos profissionais da educação e a dificuldade orçamentária geral no país.

É fundamental que o Executivo municipal reconheça o papel estratégico dos educadores e busque um acordo que contemple minimamente as demandas apresentadas. Ao mesmo tempo, o sindicato precisa manter a disposição para negociar, mesmo em meio à mobilização. Afinal, é no diálogo e não no tribunal que se constroem soluções duradouras.