A Amazônia não está condenada a um colapso inevitável, mas o relógio ecológico corre cada vez mais rápido. É o alerta de um estudo liderado pelo Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), publicado na revista “Annual Review of Environment and Resources”. A boa notícia é que não há um único ponto de não retorno climático para todo o bioma; a má é que a somatória de ameaças já provoca colapsos regionais, de forma silenciosa e contínua.
Entre 2024 e 2025, a degradação florestal disparou 497% em relação ao ano anterior, atingindo mais de 36 mil km², uma área equivalente ao território de países inteiros. O principal motor dessa devastação foi o fogo, que sozinho respondeu por 15% da perda total da floresta no período, quase o dobro do pico registrado em 2016. O desmatamento também cresceu, subindo 4% e chegando a 4.495 km². A combinação de queimadas, perda de fauna, fragmentação de habitats e mudanças no regime de chuvas cria um cenário de fragilidade crônica.
Restauração e políticas públicas
O estudo do IPAM não se limita ao diagnóstico; aponta caminhos. A primeira linha de defesa é reduzir o desmatamento, complementada por ações urgentes como restaurar áreas degradadas, manejar incêndios, fortalecer políticas públicas e ampliar a cooperação com povos indígenas e comunidades tradicionais. Essas medidas não são opcionais: são exigências para manter o equilíbrio climático e a própria estabilidade socioeconômica do país.
O Brasil, no entanto, ainda trata a Amazônia como um ativo a ser explorado até o limite, ignorando que cada hectare perdido compromete serviços ambientais essenciais da regulação das chuvas à preservação da biodiversidade.
Enquanto discursos oficiais se alternam entre promessas e justificativas, o avanço da destruição expõe a distância entre compromissos e ações concretas.
Não há destino traçado, mas há consequências irreversíveis. A Amazônia não precisa morrer, mas, para salvá-la, o país precisa agir agora, e agir de verdade