O envio de três navios de guerra para o Caribe venezuelano aprofunda a deterioração das relações entre os Estados Unidos e o regime de Nicolás Maduro. E traz motivos de preocupação inclusive para o Brasil.

Desde a sangrenta repressão aos protestos de 2014 na Venezuela, a relação entre Washington e Caracas tem sido uma contínua espiral descendente, com a adoção de sanções políticas e econômicas, especialmente sobre o lucrativo comércio de petróleo, para que fossem garantidos direitos humanos, liberdades individuais e transparência no processo eleitoral. O embargo se aprofundou em 2017, início do primeiro mandato de Donald Trump.

Agora, em sua volta à Casa Branca, um quarto aspecto ganhou força: o do narcotráfico internacional. Logo ao tomar posse, Trump incluiu o cartel Tren de Aragua na lista de grupos terroristas e, em agosto, aumentou para US$ 50 milhões a recompensa pela prisão de Maduro, acusado de ligação com o tráfico de drogas – atividade relacionada a 80 mil mortes por overdose nos EUA no ano passado.

Essa guinada política serviu de justificativa para o deslocamento dos destróieres lançadores de mísseis USS Gravely, USS Jason Burke e USS Sampson para a região, além do envio de um grupo naval anfíbio com porta-aviões e 4.500 marines para o Mar do Caribe, numa escalada da política de militarização do combate ao narcotráfico e em dura advertência ao governo bolivariano.

Para o Brasil, a crise aumenta a necessidade de vigilância nos mais de 2.000 km de fronteira amazônica com a Venezuela, muito visados desde a autodeclarada incorporação do Essequibo (Guiana) por Maduro, em 2024. 

Outro temor é o de uma nova grande onda migratória, pressionando serviços básicos e economia locais. Tudo isso, no momento em que as relações entre Brasília e Washington estão instabilizadas pelo tarifaço e pela aplicação da Lei Magnitsky. 

Todos esses fatos acentuam urgência de Brasil e EUA retomarem os canais de negociação e amizade que ajudaram a construir e preservar a segurança de todo o continente americano.