Há exatos 80 anos, a humanidade cruzou uma linha fundamental entre moralidade e existência. A detonação da bomba atômica sobre Hiroshima, em 6 de agosto de 1945 marcou a primeira vez que um artefato nuclear foi lançado contra seres humanos. Pelo menos 70 mil pessoas morreram em 24 horas e aproximadamente 100 mil não resistiram mais que poucos dias aos ferimentos sofridos. Um horror que ronda perigosamente o horizonte oito décadas depois
A transformação vertiginosa e rápida da história borrou na memória que, no intervalo de um segundo, uma bola de fogo atingiu temperaturas superiores a 3.800°C e cobriu um diâmetro de 274 metros, incinerando instantaneamente tudo em seu interior. Em poucos minutos, a tempestade de chamas devastou uma área de 11,1 km². Nas primeiras horas, 90% dos médicos e enfermeiras da cidade japonesa morreram, e 43 das 45 clínicas e hospitais foram inutilizados. Negando aos sobreviventes da detonação, o necessário cuidado para feridas que muitos jamais haviam imaginado sequer em seus piores pesadelos.
No auge de uma guerra sem combates diretos entre duas superpotências chegou-se a mais de 45 mil ogivas nucleares. O último relatório do Instituto Internacional de Pesquisa da Paz de Estocolmo (Sipri) aponta que existam 9.614 ogivas nucleares, 2100 delas prontas para uso em poucas horas. EUA e Rússia estão em franca modernização de seus arsenais, a China, que tem elevado seu estoque em 100 ogivas por ano, pode chegar a 1.500 em dez anos. O Reino Unido está reativando uma base com bombas atômicas da Otan. E a Coreia do Norte defende ‘expansão ilimitada’ de sua capacidade atômica.
O desmonte do regime de controle de armamentos que contribuiu para a estabilidade global (suspensão dos acordos Start, CTBT, INF e outros tratados antinucleares) torna mais acessível o cenário de emprego deste arsenal. É preciso parar agora essa trajetória e desarmar países e ânimos, sob pena de vermos cumprir o vaticínio de Julius Oppenheimer, o ‘pai da bomba’, inspirado do Bhagavad Gita: ‘tornei-me a morte, a destruidora dos mundos”.