A proteína animal, de um jeito ou de outro, sempre está no centro de questões econômicas no Brasil. O frango se tornou o símbolo do Plano Real: quando a moeda foi implementada, em 1994, com R$ 1 se comprava 1 kg de frango. Agora é a carne bovina, mas no papel oposto: o de vilã.
Por mais que o índice oficial de inflação aponte aumento de 8,09% no preço em novembro, quem vai às compras percebe os reajustes com força maior. Cortes que antes custavam R$ 16 o quilo agora são vendidos por R$ 25. Diante de um cenário de desemprego, orçamentos apertados e cestas de consumo sendo ajustadas mês a mês de acordo com a sazonalidade dos produtos, fica difícil compreender que o gatilho vem do exterior.
É a lei da oferta e da demanda. Mas não foi o brasileiro que começou a comprar mais carne, levando à elevação dos preços. Do outro lado do mundo, milhões de porcos morreram na China por causa de uma doença. Ao mesmo tempo, a carne bovina já vinha em ascendente popularização naquele país. Sem produzir por lá, começaram a comprar agressivamente daqui.
Com o câmbio e valor da arroba favoráveis, produtores brasileiros lucram mais vendendo para o exterior. Como a carne tem mais saída, não há bezerros suficientes para recompor o rebanho adulto na velocidade da demanda, o que também faz o preço subir. E o pior: com a carne de boi mais cara, as pessoas compram mais porco e frango, que também são majorados.
Quem sente com força o impacto desse fenômeno é a classe média. O pobre e o miserável já não têm acesso à carne. O rico desfruta de um cardápio que sempre teve filé e no qual entram frutos do mar, cordeiro, codorna e outros animais. Esse movimento no comércio exterior mostra que, para a macroeconomia, a carne é forte. Mas o prato do brasileiro está mais fraco.