Áreas de risco

As chuvas históricas dos últimos dias deixaram um saldo de mais de quatro dezenas de mortes, mais de 15 mil mineiros desabrigados ou desalojados e a certeza de que ninguém estava suficientemente preparado para a tragédia anunciada não só pela meteorologia, mas ainda mais pela situação de carência no Estado.

Segundo relatório da Divisão de Geologia Aplicada do Ministério de Minas e Energia, havia no início do ano passado cerca de 630 mil mineiros vivendo em 145 mil habitações em áreas de risco de inundação, deslizamento de terra ou quedas de blocos ou rochas, por exemplo. Na região metropolitana, são quase 30 mil pessoas nessas condições apenas em Belo Horizonte, Contagem e Betim, segundo o levantamento.

Essas pessoas são empurradas a viver nessas condições por fatores econômicos, como as faltas de casas e de emprego e renda. Segundo a Pnad Contínua do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, nove em cada dez profissionais mineiros estão procurando trabalho: uma massa de 1,2 milhão de trabalhadores que, quando possuem algum rendimento, dependem de bicos ocasionais ou de benefícios oficiais.

Mesmo que se consiga ocupação, não há moradia para todos. Estudo da Fundação João Pinheiro mostra que somente São Paulo tem um déficit habitacional maior que o de Minas. Faltam casas para mais de meio milhão de pessoas, 150 mil somente na região metropolitana.

Para piorar, os investimentos são escassos. Na esfera federal, os R$ 20 bilhões para a rubrica no Orçamento de 2020 são o valor mais baixo desde 2004 – não se esquecendo do rombo fiscal em MG. Sem dinheiro para atacar as origens do problema e aplicar em infraestrutura, moradia e redução de risco geológico, as chuvas continuarão por muito tempo a ser tragédias anunciadas.