O matagal onde o corpo de Bárbara Vitória Lopes, 10, foi encontrado ontem, em Ribeirão das Neves, é geralmente usado como local de desova de vítimas de homicídios. Essa informação foi repassada à reportagem de O TEMPO pela estudante que localizou o cadáver da garotinha, desaparecida desde domingo. Espanta imaginar que em plena região metropolitana de Belo Horizonte exista uma espécie de vale da morte: resultado da normalização da violência e da impunidade. 

No mesmo dia em que foi conhecido o desfecho trágico do caso da pequena Bárbara, o Instituto Sou da Paz divulgou estudo que revela o baixíssimo índice de esclarecimento de homicídios no país. Apenas 37% dos assassinatos cometidos em 2019 tiveram um suspeito identificado e denunciado à Justiça. 

A falta de atenção aos crimes contra a vida é notada também no sistema carcerário. Apenas 10% dos 640 mil presos são condenados por homicídios, enquanto 40% cometeram crimes contra o patrimônio, e 29% são autores de crimes relacionados a drogas.

Em um país com cerca de 40 mil homicídios por ano, as forças de segurança parecem não dar conta da demanda, especialmente a polícia judiciária. As polícias investigativas carecem de efetivo (delegados e investigadores), estrutura, tecnologia e capacitação para a elucidação de crimes.

Ao lado do fortalecimento da polícia e da legislação, outra frente de combate à criminalidade deve ser travada no âmbito cultural. Casos de violência sexual, como parece ser o de Bárbara, têm na sua base uma mentalidade que subjuga a mulher. 

A resposta das instituições aos crimes de homicídio serviria não só para inibir potenciais criminosos, mas para dar a mínima satisfação às famílias das vítimas que tiveram o direito à vida retirado