EDITORIAL

Comoção não vira voto

Redação O Tempo


Publicado em 11 de setembro de 2018 | 03:00
 
 
 
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As primeiras pesquisas de intenções de voto para a Presidência da República feitas após o atentado à vida de Jair Bolsonaro (PSL), divulgadas ontem, mostram que o episódio, embora trágico e inadmissível, teve um efeito propulsor sobre sua candidatura: além de continuar liderando, agora com maior percentual, ele deixou de ser um dos candidatos mais rejeitados.

Se, antes, Bolsonaro tinha oito segundos por programa de TV, agora tem 24 horas. A exposição na mídia deixa de ser sobre suas propostas de governo e declarações polêmicas para despertar a compaixão com sucessivos boletins médicos. Isso não só o beneficia diretamente, como as pesquisas mostraram ontem, mas também coloca “algemas” em seus concorrentes: quem tem coragem de ir à TV atacar um homem hospitalizado, cuja vida ainda está em risco? Seus oponentes – especialmente Geraldo Alckmin (PSDB), que vinha enfatizando as críticas – têm de moderar o tom.

Marina Silva (Rede) segue trajetória oposta ao candidato do PSL: caiu nas intenções de voto e subiu na rejeição. Mais pessoas declararam que não votariam nela de jeito nenhum. Suas chances de ir ao segundo turno com Bolsonaro são cada dia menores.

Quem se consolida nessa posição é Ciro Gomes (PDT). Seu perfil de centro-esquerda favorece a absorção de votos dos lulistas que ainda não foram convencidos por Fernando Haddad (PT) e rouba votos de Marina. Esse novo Ciro, que se “vende” como moderado, ganha pontos com o eleitorado ao destacar o desemprego. Sua proposta de “tirar todo mundo do SPC”, que a princípio parecia uma piada descabida, ganha corpo. E Ciro tem sido, por enquanto, o único candidato a abordar mais diretamente a violência contra a mulher – nicho no qual Bolsonaro é especialmente fraco.

Henrique Meirelles (MDB), Alvaro Dias (Podemos) e João Amoêdo (Novo), a esta altura, podem subir ou descer, mas não chegam sequer à casa dos dois dígitos de intenções de voto. O segundo turno se desenha, mas num cenário com votos tão voláteis ainda é cedo para certezas.

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