Ter mais da metade da população adulta sem o ensino médio completo é um sinal sombrio para o país. Primeiro, por desmascarar uma distorção no presente e, segundo, por refletir o descaso com o futuro.
No relatório “Education at a Glance”, a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) até reproduz o discurso oficial de que o Brasil tem um dos maiores investimentos em educação em relação ao Produto Interno Bruto (PIB). Mas vai além e mostra que isso significa pouco mais de R$ 15 mil por ano para cada estudante dos ensinos primário e secundário. O valor é vergonhosamente irrisório quando comparado com os R$ 2.148.074,83 destinados a cada um dos 513 deputados federais – isso há dois anos –, segundo a organização Congresso em Foco.
Essa perversa alocação de recursos reflete-se na incapacidade do sistema em reter jovens. Ainda que com índices equivalentes ao de países desenvolvidos na educação fundamental, apenas 17% da população entre 24 e 34 anos chega ao ensino superior.
Não é por acaso que a OCDE aponta a íntima relação do problema com a desigualdade social – na qual o Brasil só fica atrás da Costa Rica –, o que o IBGE já traduziu em cifras: a parcela 1% mais rica do país recebe em média R$ 28 mil mensais, 36 vezes mais que a metade mais pobre da população. Isso, se não estiver entre os mais de 7 milhões de brasileiros sem renda fixa que buscam emprego ou simplesmente desistiram de procurar uma vaga que nem sequer existe mais.
A herança dessa incompetência em formar jovens e distribuir renda vai além da legião de desalentados. Ela também está na erosão do capital intelectual e na capacitação do trabalhador, essenciais para o crescimento e a competitividade do país – em 80º lugar em ranking global devido à incapacidade de promover inovação, de sofisticar os negócios e, não sem motivos, de encontrar profissionais altamente qualificados.