As investigações abertas pelo Ministério Público em pelo menos dois Estados levantam suspeitas de fraude e fura-fila na vacinação contra a Covid-19 para pessoas com comorbidades. Em várias unidades da Federação identifica-se uma “corrida aos atestados” que permitam acesso à tão sonhada imunidade contra o coronavírus.

Não se questiona que os 17,7 milhões de brasileiros com doenças preexistentes devam ser vacinados. É contra a vida dessas pessoas e a de muitos outros brasileiros que a fraude em laudos médicos atenta diretamente. Os pacientes com comorbidades são vulneráveis ao desenvolvimento de casos mais graves da Covid-19 e apresentam riscos maiores de serem hospitalizados. Isso, em um momento em que as taxas de ocupação de UTIs são maiores que 80% em diversos Estados e há um risco real de desabastecimento do kit intubação não só na rede pública, mas também na particular.

O Brasil também lida com as consequências da adesão tardia aos contratos de compra de vacinas, com um volume de imunização aquém do necessário. Até o momento, apenas cerca de 10% da população recebeu as duas doses necessárias. Da meta de vacinação de pessoas com comorbidades, somente 2,9 milhões de doses haviam sido aplicadas até a última terça-feira. E o risco de fraude levanta a dúvida se elas chegaram de fato a quem é de direito.

Todos partilham o medo de ser contaminado por uma doença que já matou mais de 440 mil brasileiros, e muitos buscam uma solução individual. Mas a lógica do “salve-se quem puder” vai contra a lei (no caso de atestados falsos, contra o Código de Ética Médica) e, principalmente, contra os esforços para o combate à Covid-19, pois somente se cuidarmos de quem mais precisa é que todos conseguiremos superar a pandemia.