Em meio à pandemia, o Brasil se vê diante do risco de as crianças contraírem outras doenças devido à falta de vacinação. Na semana passada, a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) enviou um manifesto ao Ministério da Saúde alertando para o fato de que, pela primeira vez em mais de 20 anos, o país não atingiu em 2019 a meta de imunização das principais doenças infantis.

Neste ano, dificilmente será atingido o patamar entre 90% e 95% de crianças vacinadas. Até a segunda-feira passada, mais da metade delas havia recebido as doses previstas no calendário nacional de imunização. No caso da tríplice viral, somente quatro em cada dez pessoas do público-alvo receberam as duas doses necessárias. E o reflexo é que há mais de 7.700 casos confirmados de sarampo, uma doença que o Brasil já havia considerado como erradicada.

Apesar de as medidas de isolamento social terem afetado a imunização significativamente, a retração não é um fato exclusivo deste ano. Ela vem se acentuando desde 2015 por fatores ligados ao poder público e ao comportamento de pais e responsáveis. A SBP cita problemas na organização das campanhas nacionais e o desabastecimento – como ocorreu na virada do ano passado com a pentavalente, que protege contra difteria, tétano e coqueluche.

Também há fatores individuais, como a falsa sensação de segurança, a negligência e a influência dos movimentos antivacina. Nesses casos, o Supremo discute se pais podem ser obrigados a levar os filhos aos postos, mesmo quando alegarem objeções religiosas, morais ou filosóficas.

O fato é que a vacina já comprovou efetividade como principal elemento de prevenção de doenças. Negar essa verdade e negligenciar a obrigação é colocar em risco a vida das crianças.